segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Eclesiastes 3

Eclesiastes 3
“Precisamos ler a Bíblia ou não entenderemos psicologia. Nossa psicologia, nossas vidas, nossa linguagem e imagens foram construídas sobre a Bíblia” – JUNG, apud EDINGER, Bíblia e psique, p. 156.
“Quando uso, por exemplo, conhecimentos históricos ou teologicos, não são mais considerados sob o ângulo da verdade filosófica ou religiosa, mas examinados, no sentido de apurar o que comportam de significação e de fundamentos psicológicos” - JUNG, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. p. 302.
Devo deixar que fale minha subjetividade emocional, dizendo aquilo que sinto quando leio determinados livros da Sagrada Escritura ou me recordo de certas impressões que recebi dos ensinamentos de nossa fé – JUNG, Resposta a Jó, § 559.

“O caminho da vida só continua onde está o fluxo natural. Mas nenhuma energia é produzida onde não houver tensão entre contrários; por isso, é preciso encontrar o oposto da atitude consciente. É interessante verificar como essa compensação dos opostos também teve sua função na história da teoria da neurose: a teoria de Freud representa Eros; a de Adler, o poder. Pela lógica, o contrário do amor é o ódio; o contrário de Eros, Phobos (o medo). Mas, psicologicamente é a vontade de poder. Onde impera o amor, não existe vontade de poder; e onde o poder tem precedência, aí falta o amor. Um é a sombra do outro. Quem se encontrar do ponto de vista de Eros procura o contrário, que o compensa, na vontade de poder. Mas quem põe a tônica no poder, compensa-o com Eros. Visto do ponto de vista unilateral da atitude consciente, a sombra é uma parte inferior da personalidade. Por isso, é reprimida, devido a uma intensa resistência. Mas o que é reprimido tem que se tornar consciente para que se produza a tensão entre os contrários, sem o que a continuação do movimento é impossível. A consciência está em cima, digamos assim, e a sombra embaixo. E como o que está em cima sempre tende para baixo, e o quente para o frio, assim todo consciente procura, talvez sem perceber, o seu oposto inconsciente, sem o qual está condenado à estagnação, à obstrução, ou à petrificação. É no oposto que se acende a chama da vida” – JUNG, C. G. Psicologia do inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1978, p. 45-46.

Assim vejo o texto de Eclesiastes 3: vivemos sob forte tensão de opostos da atitude consciente; mas, são opostos que se complementam – é a experiência constante do vice-versa, e isto se faz através da capacidade de simbolização que todos nós temos: se há nascimento, então é preciso tomar consciência da morte; se algo foi plantado, algo precisa ser arrancado; se algo morreu, o que é que precisa ser curado; se algo foi destruído, então o inconsciente elabora a construção de algo novo; se você está chorando, o sorriso vai chegar; se há tristeza, é para você pular de alegria depois que as coisas melhorarem; se é preciso jogar fora, não pense em acumular, mas se é preciso guardar, não jogue fora; etc.
Há tempo para: cuidado, medo, dúvida, força, ternura, espanto, alegria, encanto, surpresa, determinação, espera, dedicação, ruptura.
Susto pela visita do inesperado. Só uma certeza: acabou!
A vida adquire uma face que parecia não existia.
A vida pode ter uma face ruim, por que ela possui uma face boa.
É o tempo de gestar e parir o lado desimportante da vida.
Quantas vezes temos visões que nunca se transformaram em realidade?
Quantas fantasias passam por nossas cabeças e só têm como consequência provocar emoções?
Quantas intuições negativas não são confirmadas?
O que foi – irremediavelmente, irreparavelmente, insuportavelmente - separado, perdido, colhido, destruído, lamentado, ficou triste, desconstruído, abandonado, perdido, jogado fora, rasgado, calado, odiado, armado?
Olhamos para algo e queremos que não exista.
Não há consolo que consola. Nada distrai. Não há alívio fácil. Não existe ajuda que nos faça esquecer. Só precisa-se encontrar algum sentido para o quê aconteceu.
E, quando um desejo que quase nunca é atendido, é atendido?
Desejos que não eram para serem cumpridos, mas se cumprem?
A tarefa é então buscar, encontrar algum sentido para o que se perdeu.
Mas, qual o sentido? Do que aconteceu? Não!
De estar em paz para continuar vivendo, sem o que não existe mais.
Caminhar em direção ao sentido, e não ao nada, ao vazio.
Às vezes, não é possível encontrar o caminho sozinho, por isso precisamos do outro.
Não, o outro não substituirá, mas poderá nos levar a ver que algo está além, para continuar a ser o que é, não para permanecer, mas transformar.
O sentido está em dar um novo formato e conteúdo às experiências que nos lançam no vazio. Não há substitutos. Não é possível fazer trocas. Trocar não é alcançar, buscar ou encontrar sentido, porque o que perdeu é uma realidade em si, e nada nem ninguém é suficiente para anular a ausência.
O tempo é a forma da vida apresentar-nos seus mistérios, alguns se revelam, outros conseguimos entender, mas tudo permanece um mistério. Até o que é bom, é mistério.
Há coisas que podem ser mudadas, outras não, mas podemos aceitar, porque são maiores e imutáveis.
Isto é verdade, porque o tempo nos faz olhar dentro. O tempo é a vivencia interna, e às vezes esta é tão ou mais intensa que a externa, e às vezes são tão ou mais intensas.
O sentido é adquirido quando a vida adquire o senso do divisor de águas. Quando as referências e as buscas se transformam profundamente a partir dos acontecimentos.
É ser uma pessoa sem abraço, cuidado, força, ternura, alegria, encanto, surpresa, determinação, dedicação – mas, que busca solucionar esse enigma que chamamos tempo.

Ambigüidades, mas que precisamos integrá-las. É preciso precaução com a fantasia da onipotência; tomar consciência das fragilidades, impotências e desamparos inerentes à condição humana, que há limites e por isso tudo pode ser perdoado. Em nada somos prediletos para sermos poupados ou exigirmos que sejamos poupados do que precisa acabar.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Crer e duvidar ao mesmo tempo, produz mentes e corações brilhantes

"A religião judaica é construída, sobretudo, sobre dúvida: nossos maiores heróis bíblicos profetas jamais tinham certeza de nada e não hesitavam em discutir com todos, até com o próprio Deus. Desde Abraão, que discutiu com Deus sobre a destruição de Sodoma e Gomorra, a Jonas, que havia recusado a promessa de Deus de que ele diria as suas profecias, o judaísmo permite acreditar e duvidar ao mesmo tempo. Sinto que a identidade israelense é muito menos ambígua que isso, sendo muito mais segura e menos reflexiva sobre qualquer de seus dilemas. Sinto que Israel só tem a ganhar se reconectar com uma tradição que, ao ser capaz de pensar tanto da maneira convencional como fora dela, conseguiu produzir, entre muitas outras, mentes tão grandes como Einstein, Freud e Marx" - Etgar Keret, autor de De repente uma batida na porta (Rocco, 2014). (Jornal O Estado de São Paulo - 12.07.14, C3).

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A verdadeira adoração em espírito e em verdade

"Temo-nos tornado participantes da vida divina, e temos de assumir uma nova responsabilidade para com o Self, que se exprime a si próprio na empreitada da nossa individuação. A individuação não significa que o homem se tem tornado verdadeiramente humano como distinto do animal, porém que ele está para tornar-se também, parcialmente divino. Isso praticamente significa que ele se torna adulto, responsável pela sua existência, sabendo que não só depende de Deus, mas que Deus também depende do homem. a relação entre o homem e Deus provavelmente tem de passar por uma certa mudança importante, em vez de propiciar louvores a um rei imprevisível ou prece de criança a um pai amoroso, a vida responsável e o cumprimento da vontade divina em nós serão a nossa forma de adoração para com Deus, e de comunicação com Ele. Sua bondade significa graça e luz, e seu lado escuro, a terrível tentação do poder. Embora a encarnação divina seja um acontecimento cósmico, ela só se manifesta empiricamente naqueles poucos indivíduos relativamente capazes de consciência o bastante para tomar decisões éticas, isto é, de se decidirem pelo bem. Portanto, Deus pode ser chamado de bom apenas porque Ele é capaz de manifestar sua bondade nas pessoas. Sua qualidade moral depende das pessoas. Eis o motivo porque Ele encarna. A individuação e a existência individual são indispensáveis para a transformação de Deus, o Criador" (EDINGER, E. O encontro com o Self. São Paulo: Cultrix, 1991, p.92).

domingo, 5 de janeiro de 2014

Apesar de não fazer nenhuma citação a C. G. Jung, o texto elaborado a partir de uma mensagem bíblica, nos leva a refletir simbolicamente sobre o mesmo. Procure ler o texto bíblico indicado, para compreender melhor a reflexão, que tem um sentido religioso mas, especialmente, psicológico, bastante pertinente ao contexto contemporâneo. Boa leitura!
Is. 55.1-13
“A minha Palavra produz o fruto que desejo e sempre traz o resultado que determinei”, conforme o profeta Isaías 55.11.
         A Palavra de Deus interfere no mundo, ou seja, ela produz algum efeito.
        Graças a ação da Palavra de Deus em você, deve sair de dentro de você um mundo melhor para se viver. Quando você é influenciado por ela, sua vida é alterada e a dos outros, também.
         As condições humanas podem ser até desfavoráveis, como as que viviam o povo de Israel. O contexto histórico era adverso a qualquer esperança de que a Palavra de Deus pudesse provocar alguma mudança, visto estarem sob o terrível domínio babilônico.
         Isaías se dirige aos que serviam como escravos oprimidos pelo medo da morte e sem esperança de sobreviver e voltar à sua terra, e afirma: “onde há espinheiros, haverá ciprestes; onde há mato bravo, nascerão murtas”, ou em outras palavras: “por piores que sejam as condições de vida, a Palavra de Deus realizará em vocês as Suas promessas”.
        Ele fala de algo que todos conheciam: “assim como a água da chuva e a neve que caem do céu e para lá não voltam, sem que antes provoquem crescimento às plantações e produza frutos para o sustento dos homens, assim também acontece com a Palavra de Deus”.
         Para o profeta a Palavra de Deus é gera: confiança, otimismo, esperança, direção para a vida, isto é, alimento.
         Mesmo que onde você vive seja terrível – “espinheiro e mato bravo”, ou seja, ainda que tudo pareça ruim, mesmo assim confie, espere, acredite, mantenha sua fé na Palavra de Deus praticando-a, pois em algum momento ela produzirá os benefícios que promete, você verá “plantações para o sustento do mundo”.
         Por isso, o apóstolo Paulo, diz: “os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há de manifestar-se em vós” –Romanos 8.18 – leia Romanos 8.18-25.
         Nossos dias são como o dia do nascimento de uma criança, que ao nascer causa dor, desconforto, sofrimento à mãe, porém, depois que nasce, a dor é esquecida e deixa a todos, felizes e alegres.
         Para o Apóstolo – “temos em nós as primícias do Espírito” – vs. 23, isto é, você com a semente da Palavra de Deus pode transformar todo o mundo ao seu redor, mesmo “gemendo”, mas com “paciência”.
         A Palavra de Deus, então, incumbe você de uma responsabilidade: viver segundo a presença do Espírito Santo, para que o mundo seja transformado. Você é chamado a transformar o mundo e, isto acontece à medida que o Espírito Santo, que você tem em nosso interior, age através de você.
O mundo pode ser melhor ou pior, dependendo de como você resolve viver. O que você faz de bom para os outros, reflete em todos.
A Parábola do Semeador nos fala daquilo que acontece com você e com o mundo, dependendo de como você acolhe e pratica a Palavra de Deus – Marcos 4.3-20.
Pode ocorrer nada: o mundo permanecer do mesmo modo como antes, pois as aves do céu comem a semente; que o mundo só tenha espinho e mato bravo, para todos morrerem de fome, que significa: violência, ódio, ansiedade e medo.
Pode a situação piorar: o entusiasmo leva as pessoas a acreditarem que tudo vai ser diferente, tudo vai melhorar como num passe de mágica, mas as provações chegam para que as pessoas se firmem e não desistem, mas o entusiasmo só deixa uma vaga lembrança, e como não deixa raízes para que fiquemos firmes apesar de tudo, o mundo piora mais, pois as provações geram angústia e escândalos, que significa: gente que acha que a Palavra de Deus não serve para nada, e podemos fazer de nossa vida o que quisermos.
Contudo, pode haver promoção de vida e bem-estar. Praticar a Palavra de Deus produz muitos frutos: de uma semente nasce 100, de outra, 60 e, de outra, 30, quer dizer, de você: “o espinho vira cipreste, e o mato dá espaço para a murta”.
Medite um pouco mais:
Lembre-se que você já foi um faminto de pão macio e
nutritivo, mas quando você se alimentou da
Palavra de Deus, ela saciou a sua fome.
Lembre-se que você tem o melhor alimento
a dar para os outros: amor e bondade.
Lembre-se que o poder sobre os outros
não alimenta, só estimula a continuarem em
seus maus caminhos, e a não deixarem os maus pensamentos,
porque os deixa com raiva e ódio.
Deus quer que você mostre aos outros a Sua grande misericórdia
e o Seu imenso perdão a todos os pecados.
Lembre-se que a maneira de Deus agir é muito
diferente da sua, e que você precisa aprender
a agir da maneira Dele.
Lembre-se que a Palavra de Deus produz
o fruto que Ele deseja e sempre traz
o resultado que determinou.
Lembre-se que a Palavra de Deus que você
carrega dentro de você é como a água da chuva e
como uma semente pronta para alterar a sua vida,
e a das pessoas que vivem com você.
Você, pela prática da Palavra de Deus pode fazer
as pessoas mais alegres, e viverem em paz,
porque ela faz você ser uma pessoa alegre, e em paz.
Você, pela Palavra de Deus pode encher
o mundo de música e de alimento,
porque ela inspira músicas e danças e fortalece a sua vida.
Você, pela Palavra de Deus pode arrancar
espinheiros, quer dizer, tornar a vida menos difícil e
mais enfeitada, porque se não fosse a Palavra de Deus
a sua vida seria muito embaraçosa, e deformada.
Você, pela Palavra de Deus pode cortar
mato bravo, quer dizer, fazer a vida produzir coisas boas,
e ser mais segura, porque se não fosse a Palavra de Deus
a sua vida seria infrutífera, e sujeita a ataques.
Lembre-se: este é o milagre que o mundo espera que aconteça, que a sua vida seja alterada pela Palavra de Deus,
e isto “trará glória ao nome do Senhor,
e será uma lembrança eterna do poder e amor de Deus”.

domingo, 26 de maio de 2013

Substâncias químicas e religião

A experiência com substâncias químicas que levam a um tipo de experiência religiosa me chama a atenção que se trata de uma abertura à dimensão espiritual, um meio de vivenciar a "função transcendente", conforme a psicologia analítica de C. G. Jung, mas que pode ser fruída sem nenhuma substância, pois esta pode levar a um contato com o absurdo, que é parecida com a do absoluto, com a qual devemos tomar cuidados, e não é necessária, ainda que pareça que nos leve a perceber a sua realidade. 
O mais importante disso tudo é que tal "função" é algo interno, e não externo, não vem de fora para dentro, mas se quisermos que permaneça, precisamos vivenciá-la de dentro para fora. 
Parece-me que se trata de uma experiência com a "psique" e da "psique", pois só através da alma é que podemos estabelecer que Deus age sobre nós, daí a conclusão de que passamos por alguma alteração em alguns de seus valores de vida. 
Jung afirma: "Pode ocorrer facilmente que um cristão que acredita em todas as figuras sagradas seja ainda subdesenvolvido e imoto no mais profundo de sua alma porque ele tem 'Deus todo do lado de fora' e não o experienta na alma. Seus motivos decisivos, seus interesses e impulsos dominantes não vêm da esfera da cristandade, mas da psique inconsciente e subdesenvolvida, que é tão pagã e arcaica como sempre... Sua alma está fora de compasso com suas crenças externas... Sim, tudo deve ser encontrado fora - em imagem e em palavra, na Igreja e na Bíblia -, mas nunca dentro" (Psicologia e Alquimia, par. 11-12).
Para a religião institucionalizada é uma experiência reprovável, mas o mais importante é que se tratou de uma descoberta que, provavelmente, a Igreja não favorece, devido a manutenção de um casulo vazio, de onde, há muito tempo, a "borboleta" já saiu.
Talvez pela primeira vez,percebamos que a relação com Deus é subjetiva e pessoal, e para que esta provoque as alterações que sentimos como necessidades em nossa história pessoal não precisa ser intermediada por nada, nem pela religião institucional, nem também por alguma substância química.
Não é fácil manter esta experiência pessoal à salvo da força dogmática presente no âmbito religioso, e também, acadêmico. É necessário um esforço moral na sua preservação e cultivo, pois se trata de uma "descoberta" de que Deus é imanente, e encarnado em nossa natureza, e não "Totalmente Outro" como afirmam as religiões.
"Jung concluiu que Deus age fora do inconsciente e força os seres humanos a harmonizar as influências opostas às quais a mente é exposta pelo inconsciente. O inconsciente quer cair na consciência para alcançar a luz. E ele afirmou que, buscando a unidade, podemos sempre contar com a ajuda de Deus" (Dyer, D. R. Pensamentos de Jung sobre Deus. p. 70).
Esta opinião de Dyer é muito importante: Deus nos ajuda a conciliar inconsciente e consciência, pois só assim podemos perceber que Deus está dentro de nós, e nunca esteve fora, ou como afirma Jung: 'Deus se torna manifesto no ato humano da reflexão".
Por isso, e muito mais, fique em paz, transforme o acontecimento de ter experimentado o chá em experiência de vida que pode levá-la a uma necessária transformação de valores, que só você sabe que verdadeira e realmente, precisa.

domingo, 21 de abril de 2013

O amor é o melhor substituto da hostilidade


Atos 14 – A atmosfera hostil vivenciada pelos primeiros cristãos não foi motivo para desistirem, nem desanimarem. Antes, eles se fortaleciam e se encorajavam mutuamente.
Qual o segredo deles? O que fazia deles cristãos fortes, unidos e corajosos, apesar de tantas dificuldades?
1. A consciência de que Deus os dirigia – Sl. 145.9, 14 e Ap. 21.3: “O Senhor é bom para todos”; “O Senhor sustém os que vacilam e apruma todos os prostrados”; “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habita com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles”.
2. A mão de Deus nos guia e é Ele quem realiza todas as coisas em nós – Sl. 145.10, 11; Ap. 21.5: “Falarão da glória do teu reino e confessarão o teu poder, para que aos filhos dos homens se façam notórios os teus poderosos feitos e a glória da majestade do teu reino”; “Eis que faço novas todas as coisas”.
3. A porta está aberta a todos – Sl. 145.4, 6, 7; Ap. 21.4: “Uma geração anunciará os teus poderosos feitos a outra geração”; “Falar-se-á do poder dos teus feitos tremendos”; “divulgarão a memória da tua muita bondade”; “Deus lhes enxuga dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”
4. Eles tinham uma mensagem: “mostrar a todos que através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” – At. 14.22

João 13.31 – nos conta que o próprio Jesus não desistiu nem desanimou de enfrentar as tribulações, antes Ele se manteve firme em Sua missão, porque trazia consigo o Reino de Deus, e este valia mais que suas próprias vidas, apesar de todas as adversidades.
Ele, também, tinha a consciência de que Deus O dirigia; a mão de Deus O guiava e era Ele quem realiza todas as coisas através dEle; que a porta está aberta a todos; e tinha uma mensagem: “assim como eu vos amei, amem uns aos outros. Nisto conhecerão, todos, que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”
Os feitos do Senhor devem ser nossa maior atenção;
A memória da Sua muita bondade é a nossa força;
E, ainda que vacilemos Ele nos sustenta, ainda que fiquemos prostrados, Ele nos apruma, nos põe de pé.
        
Quantas vezes já passamos por isso? Mas, temos que passar para outras pessoas esta experiência. Se não passamos é porque talvez estejamos insatisfeitos com o que Ele nos faz.
         A hostilidade não é impedimento para nos amarmos.
         O amor é o melhor substituto da hostilidade.

A cada dia que passa aumenta a “tentação de manter contato imediato e ininterrupto com a vida lá fora, para saber notícias de todos os cantos. (...) (é) sempre mais importante o lugar onde não se está. (...) dificuldade de as pessoas viverem a solidão, o recolhimento (...)”
         “Os meios de comunicação estão a penetrar cada instante da vida, passando a ser difícil se manter alheio ao que sucede naquele instante nos recantos da Terra ou no círculo de amigos. A comunicação contínua transforma cada qual em consumidor viciado de informações, passivamente dominado pela necessidade premente de receber e enviar mensagens, de falar ao celular, de visualizar enquanto almoça ou janta o écran da televisão (...) Brota a sofreguidão pelo recém ocorrido, de que se é inteirado de imediato, sem espaço para reflexão ou a dúvida”.
         “A consequência está na perda da individualidade diante do predomínio do coletivo graças à massificação da informação contínua, que formata sem juízos críticos uma mentalidade única, com distinções apenas tênues. A avassaladora prevalência do coletivo, no entanto, não proporciona o espírito comunitário, a solidariedade entre os homens, cada vez mais exclusivistas. Curiosamente, surge um individualismo sem individualidade: as pessoas restam sem identidade”.
         “A existência transcorre sem se formularem juízos de valor, sem imaginação, pois predominam o que se vê e os juízos de fato, por se afastar a construção de hipóteses. (...) substitui-se a qualidade das experiências pela quantidade das experiências”.
         “Passa-se, então, a fazer parte da opinião púbica, que não consiste na opinião de todos nem da maioria, mas a opinião construída pela mídia, especialmente rádio e televisão, que seleciona as matérias a serem veiculadas e, o mais importante, escolha a forma como elas serão veiculadas. Decidem os editores a tonalidade e os acentos a serem dados à notícia, sempre em busca do que efetivamente conta: o aumento da audiência”.
         “Formata-se, dessa maneira, um consenso artificial, uma opinião coletiva recepcionada sem questionamentos e sem avaliações. Imperceptivelmente, as pessoas são cada vez mais escravas dos meios de comunicação, ainda por cima com a internet, pois precisam deles, se alimentam deles, sentem-se órfãs ao estarem desconectadas. Vive-se com a mídia e pela mídia. Viver é estar plugado”.
         “(...) a nova cultura é a cultura da virtualidade real, em que predomina a televisão, esse meio frio de comunicação que se dirige a uma audiência preguiçosa, a um telespectador presidido pela lei do mínimo esforço, sem resistências em face do que lhe é transmitido. A televisão, devendo alcançar e satisfazer o maior número de pessoas, faz na programação um corte por baixo e define um raso denominador comum. Dessa maneira, ao buscar entreter, vale criar alarma, emocionar, estimular os aspecto sensoriais, facilmente apreensíveis, e apenas com raras exceções valorizar o senso crítico, a imaginação e a reflexão”.
         “Dá-se a mundialização dos costumes ao se uniformizarem comportamentos difundidos pelos meios de comunicação, do rádio à internet, em vista do que se enfraquecem a influência e a importância dos emissores seculares de valores e de ideais como a religião e as ideologias políticas”.
         “Cabe uma revolta do homem contra os dominadores insidiosos, para impedir a invasão constante de nossos domínios de exclusividade”.
         “Defensores da imaginação silenciosa, uni-vos”.
(Texto de Miguel Reale Júnior – Advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras. Foi ministro da Justiça. Artigo: Haydin ou BlackBerry – Jornal O Estado de São Paulo, 01.05.2010, A-2).