Para você ter medo de você, é necessário ter
consciência do mal que você é capaz de fazer aos outros, e a você mesmo.
William Shakespeare escreveu uma peça cujo título é
Rei Ricardo III. No 5º Ato da 3ª Cena, Ricardo diz:
“Ó consciência covarde, como me afliges!
Quê! Tenho medo de mim?
Não há nenhum outro aqui.
Ricardo ama Ricardo; isto é, eu sou eu.
Haverá um assassinato aqui? Não. Sim, eu sou.
Então foge. Quê? De mim mesmo?
Que grande razão a não ser que eu me vingue.
Quê? Eu de mim mesmo?
Olha! Eu me amo a mim mesmo.
Por qualquer bem que eu tenha feito a mim mesmo?
Ah! Não!
Olha, eu, antes, me odeio...
Minha consciência tem mil diferentes línguas,...
todas gritando: “Culpado! Culpado!”
Consciência é uma palavra usada pelos covardes...
Que nossos poderosos braços sejam a nossa
consciência e as espadas, a nossa lei.
Marchemos juntos com bravura, rapidamente; se não
para o céu, então de mãos dadas para o inferno.”
Estas palavras de Ricardo III revelam que ele não tinha medo dele mesmo; temer
a si mesmo é covardia.
Talvez, a primeira coisa que salta aos olhos dos
textos bíblicos – Deuteronômio 26.4-10; Romanos
10.8-13; Salmo 91; Lucas 4.1-13 - é a realidade do mal e da maldade.
Mas, por vivermos cercados de certos “confortos”
que a vida moderno nos permite, estamos perdendo a necessária capacidade de
considerar a existência do mal e da maldade em nós mesmos. “Confortos”, como: a
tv, o dinheiro, os políticos corruptos, as estruturas internacionais como
Taleban e Al Qaeda, criminosos frios – estes nos ajudam a pensar que não somos
maus, e se não somos maus não precisamos do Senhor em nossas vidas, porque
somos bons. Concluímos. Para alguns, o mal e a maldade não existem, porque não
se sentem atingidos por eles.
Deuteronômio
26.4-10 – narra-nos o mal que o povo
de Israel sofreu. O texto faz referência ao mal e a maldade sofrida desde os
tempos dos Patriarcas, que são representados pelo nome - “Arameu”, referência a
Isaque, conforme Gênesis 25.20.
O texto descreve a descida ao Egito e ao mal sofrido,
inicialmente, por 70 pessoas, – Êxodo 1.5 – que depois de 400 anos haviam se
tornado milhões de pessoas; e a vida no Egito foi marcada pela opressão.
Devido ao orgulho e a soberba de Faraó, o
sofrimento foi intenso, registrado como angústia, trabalho e opressão – vs. 7.
Mas, também, o texto se refere à entrada do povo na
terra de Canaã; como que, para deixar registrado que a maldade sofrida, tão
intensamente, não venceu nem derrotou aquelas pessoas.
“O Senhor nos tirou do Egito: Com mão poderosa. Com
braço estendido. Com grande espanto. Com sinais. Com milagres” – vs.8.
É admirável o que Deus fez com o Seu povo. Nenhum
outro motivo pode ser atribuído àquilo que o Senhor fez pelo Seu povo, senão o
Seu amor.
O povo experimentou as palavras de Paulo aos
Romanos 10.12 – “O Senhor é rico para com todos os que O invocam”.
O Salmo 91
registra como a maldade age e atinge as pessoas.
O salmista nos fala que a maldade é invisível, só
depois da destruição que ela provoca é que percebemos a sua atuação; que ela se
apresenta invisível, de tal maneira que as vítimas não se preparam com
antecedência.
Para o salmista, a maldade é como se fosse:
Laço
do passarinheiro – os maus agem às escondidas, camuflados, não deixando
vestígios de sua presença e de suas intenções, para pegar as suas presas.
Admitamos: não são poucas as vezes que agimos como o caçador que armamos
armadilhas para nós mesmos e para os outros, e sempre nos preocupamos em não
deixar “pistas” ou “sinais” que nos denunciam nossas maldades;
Peste perniciosa – a maldade age como os vírus ou
bactérias, sem que seja percebida, agimos às escondidas, provocando um dano
terrível, se não for acudido a tempo;
Terror noturno – a maldade se vale da noite, para que ninguém acompanhe os
passos que poderiam ser seguidos; não é possível prever os ataques dos maus.
Admitamos: nossas maldades são imprevisíveis, atacamos sem avisar previamente,
só depois calculamos os estragos;
Peste que se propaga nas trevas – à noite a capacidade de discernir as coisas,
é mais limitada, e os maus se valem da sua esperteza, para aplicarem seus
golpes. Admitamos: toda vez que agimos contra nós e contra os outros não nos
valemos do discernimento de quem somos e das consequências das nossas decisões
ou ações;
Mortandade que assola ao meio-dia – indicando que as consequências são
terríveis, mas às vezes já não tem mais o que possa ser feito, devido às proporções
que a maldade toma. Admitamos: são muitas as vezes que depois do mal praticado
contra nós e contra os outros, depois que nada mais pode ser feito, porque o
estrago é grande demais, percebermos a maldade que nos habita;
O
maldoso age sem percebermos, como o caçador arma suas armadilhas – O Salmo
140.5, nos diz: “Os soberbos ocultaram armadilhas e cordas contra mim,
estenderam-me uma rede à beira do caminho, armaram ciladas contra mim”;
Em Romanos
10.8-13 e em Lucas 4.1-13,
aprendemos como devemos tratar quando estamos sob o ataque do mal, que pode ser
personificado nos maldosos, que somos nós mesmos.
Para lutar contra o mal faça como o Senhor Jesus,
acredite que: “Não só de pão viverá o homem” – isto é, Jesus confiou que Deus o
sustentaria, que na Sua angústia, Deus esteva com Ele;
“Ao Senhor teu Deus, adorarás e só a Ele darás
culto” – Jesus cuidou para que não ficasse tão soberbo como o próprio tentador
e, tomou esta atitude, porque Ele conhecia o Nome do Senhor;
“Não tentarás o Senhor, teu Deus” – Em Mt. 26.53-54
– Jesus sabia que podia contar com legiões de anjos para libertá-lo da morte,
mas não se colocou em situações vulneráveis, antes, soube se preservar da soberba
e das suas consequências.
É muito comum considerarmos que o mal é tudo aquilo
que outras pessoas fazem contra nós, que tanto nos prejudica, e que somos
vítimas em suas mãos; todavia, não consideramos que, na realidade, se sofremos
algum mal dos outros, é porque estas pessoas não tinham consciência de suas
maldades, e por isso cometeram contra eles mesmos, e contra nós, as suas
maldades.
Teríamos muito mais proveito se considerarmos que
os maldosos somos nós mesmos. Agimos sob disfarces conosco mesmos. Não tratamos
com seriedade o mal que somos capazes de cometer contra nós mesmos. Não tememos
a nós mesmos.
A verdade é que o Egito com suas opressões somos
nós mesmos. Causamos angústias e damos trabalhos pesados a nós mesmos, quando nos
maltratamos. Somos nosso próprio Faraó, soberbo e presunçoso. Não atendendo às
necessidades que a alma reclama. Segundo o apóstolo Tiago – “somos tentados
pela nossa própria cobiça, que nos atrai e nos seduz” – Tiago 1.12-15. E, nossa
cobiça é como o laço do passarinheiro, como a peste que não se sabe de onde
surge senão quando se vê seus efeitos.
Somos nós mesmos que cobiçamos mais as coisas
materiais no lugar das espirituais, e por isso às vezes dizemos: “eu sou o que
tenho”;
Somos nós mesmos que cobiçamos mais prestígio e
sucesso que nos leve a sermos admirados pelos outros, e por isso às vezes
dizemos: “tenho que conseguir tudo o que quero, para ser admirado pelos outros,
e Deus há de querer”.
Somos o Ricardo III da Cena 3, Ato nº 5, de William Shakespeare - não tememos a
nós mesmos. E, por não temermos a nós mesmos, por isso não buscamos a Deus, que
é rico para com todos, está perto de nós, à nossa boca.
Temos de
intensificar a relação com o Self, na linguagem da psicologia analítica de C.
G. Jung, isto é, Ele nos tirar do Egito que somos nós mesmos, com mão poderosa,
braço estendido, e às vezes, pode nos causar “grande espanto”, devido aos
“sinais e milagres”, quer dizer, porque só mesmo um milagre pode nos tirar das
situações que nos envolvemos devido às nossas maldades.
Sugestão: depois das leituras bíblicas, ore:
Sugestão: depois das leituras bíblicas, ore:
Deuteronômio 26.4-10
Admitamos que muitas vezes nos apresentamos a Deus sem nenhuma oferta de gratidão, por
acreditar que estamos vivos graças a nós mesmos, e às nossas capacidades
humanas e terrenas. Que o Senhor nos perdoe das vezes que buscamos
refúgio no “Egito”, isto é, em pessoas como nós mesmos e, não nEle, mesmo
sabendo que sofremos muito por essa decisão. Confessemos a Deus das vezes que
não invocamos Seu Nome, até mesmo quando estamos em angústia e sofrimento, por acreditar
que logo superaremos as dificuldades, graças às nossas capacidades.
Salmo 91
Deus nos perdoa para sermos guardados
e protegidos por Ele, pois Ele é a nossa fortaleza e socorro. Deus nos perdoa
para estarmos seguros das doenças e armadilhas que armamos contra nós mesmos,
pois Ele é o nosso escudo. Deus nos perdoa para percebermos nossa escuridão e
não para sairmos dela; percebermos a violência de que somos capazes de cometer
contra nós mesmos e contra nosso próximo. Deus nos perdoa para dizermos para
nós mesmos: O Senhor é a nossa proteção.
Romanos 10.8-13
O Senhor
está perto de nós, tão perto como nossos próprios corações e nossas bocas. Lembra-nos que confiando no Senhor, não ficamos
decepcionados. Peço que nos faça confiar que é o Senhor que nos dá
generosamente de tudo que precisamos, principalmente quando estamos em luta
contra nossas cobiças.
Lucas 4.1-13
Para não
morrermos de fome no deserto que muitas vezes transformamos nossa vida, para
não sermos vencidos pelas tentações que sofremos todos os dias, precisamos de Deus.
BENÇÃO
Que o Senhor livre você das armadilhas
e das doenças mortais que você tem dentro de você. Que o Senhor proteja você ao
enfrentar o lado mais escuro da sua personalidade. Que o Senhor salve você da violência que é capaz de fazer contra você mesmo. Que o Senhor coloque você em um lugar
seguro para evitar que a sua vida seja destruída.
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