domingo, 17 de fevereiro de 2013

Você tem medo de você?

Você tem medo de você?
Para você ter medo de você, é necessário ter consciência do mal que você é capaz de fazer aos outros, e a você mesmo.
William Shakespeare escreveu uma peça cujo título é Rei Ricardo III. No 5º Ato da 3ª Cena, Ricardo diz:
“Ó consciência covarde, como me afliges!
Quê! Tenho medo de mim?
Não há nenhum outro aqui.
Ricardo ama Ricardo; isto é, eu sou eu.
Haverá um assassinato aqui? Não. Sim, eu sou.
Então foge. Quê? De mim mesmo?
Que grande razão a não ser que eu me vingue.
Quê? Eu de mim mesmo?
Olha! Eu me amo a mim mesmo.
Por qualquer bem que eu tenha feito a mim mesmo? Ah! Não!
Olha, eu, antes, me odeio...
Minha consciência tem mil diferentes línguas,... todas gritando: “Culpado! Culpado!”
Consciência é uma palavra usada pelos covardes...
Que nossos poderosos braços sejam a nossa consciência e as espadas, a nossa lei.
Marchemos juntos com bravura, rapidamente; se não para o céu, então de mãos dadas para o inferno.”

         Estas palavras de Ricardo III revelam que ele não tinha medo dele mesmo; temer a si mesmo é covardia.
Talvez, a primeira coisa que salta aos olhos dos textos bíblicos – Deuteronômio 26.4-10; Romanos 10.8-13; Salmo 91; Lucas 4.1-13 - é a realidade do mal e da maldade.
Mas, por vivermos cercados de certos “confortos” que a vida moderno nos permite, estamos perdendo a necessária capacidade de considerar a existência do mal e da maldade em nós mesmos. “Confortos”, como: a tv, o dinheiro, os políticos corruptos, as estruturas internacionais como Taleban e Al Qaeda, criminosos frios – estes nos ajudam a pensar que não somos maus, e se não somos maus não precisamos do Senhor em nossas vidas, porque somos bons. Concluímos. Para alguns, o mal e a maldade não existem, porque não se sentem atingidos por eles.

Deuteronômio 26.4-10 – narra-nos o mal que o povo de Israel sofreu. O texto faz referência ao mal e a maldade sofrida desde os tempos dos Patriarcas, que são representados pelo nome - “Arameu”, referência a Isaque, conforme Gênesis 25.20.
O texto descreve a descida ao Egito e ao mal sofrido, inicialmente, por 70 pessoas, – Êxodo 1.5 – que depois de 400 anos haviam se tornado milhões de pessoas; e a vida no Egito foi marcada pela opressão.
Devido ao orgulho e a soberba de Faraó, o sofrimento foi intenso, registrado como angústia, trabalho e opressão – vs. 7.
Mas, também, o texto se refere à entrada do povo na terra de Canaã; como que, para deixar registrado que a maldade sofrida, tão intensamente, não venceu nem derrotou aquelas pessoas.

“O Senhor nos tirou do Egito: Com mão poderosa. Com braço estendido. Com grande espanto. Com sinais. Com milagres” – vs.8.

É admirável o que Deus fez com o Seu povo. Nenhum outro motivo pode ser atribuído àquilo que o Senhor fez pelo Seu povo, senão o Seu amor.
O povo experimentou as palavras de Paulo aos Romanos 10.12 – “O Senhor é rico para com todos os que O invocam”.

O Salmo 91 registra como a maldade age e atinge as pessoas.
O salmista nos fala que a maldade é invisível, só depois da destruição que ela provoca é que percebemos a sua atuação; que ela se apresenta invisível, de tal maneira que as vítimas não se preparam com antecedência.
Para o salmista, a maldade é como se fosse:
         Laço do passarinheiro – os maus agem às escondidas, camuflados, não deixando vestígios de sua presença e de suas intenções, para pegar as suas presas. Admitamos: não são poucas as vezes que agimos como o caçador que armamos armadilhas para nós mesmos e para os outros, e sempre nos preocupamos em não deixar “pistas” ou “sinais” que nos denunciam nossas maldades;
Peste perniciosa – a maldade age como os vírus ou bactérias, sem que seja percebida, agimos às escondidas, provocando um dano terrível, se não for acudido a tempo;
         Terror noturno – a maldade se vale da noite, para que ninguém acompanhe os passos que poderiam ser seguidos; não é possível prever os ataques dos maus. Admitamos: nossas maldades são imprevisíveis, atacamos sem avisar previamente, só depois calculamos os estragos;
         Peste que se propaga nas trevas – à noite a capacidade de discernir as coisas, é mais limitada, e os maus se valem da sua esperteza, para aplicarem seus golpes. Admitamos: toda vez que agimos contra nós e contra os outros não nos valemos do discernimento de quem somos e das consequências das nossas decisões ou ações;
         Mortandade que assola ao meio-dia – indicando que as consequências são terríveis, mas às vezes já não tem mais o que possa ser feito, devido às proporções que a maldade toma. Admitamos: são muitas as vezes que depois do mal praticado contra nós e contra os outros, depois que nada mais pode ser feito, porque o estrago é grande demais, percebermos a maldade que nos habita;
         O maldoso age sem percebermos, como o caçador arma suas armadilhas – O Salmo 140.5, nos diz: “Os soberbos ocultaram armadilhas e cordas contra mim, estenderam-me uma rede à beira do caminho, armaram ciladas contra mim”;

Em Romanos 10.8-13 e em Lucas 4.1-13, aprendemos como devemos tratar quando estamos sob o ataque do mal, que pode ser personificado nos maldosos, que somos nós mesmos.
Para lutar contra o mal faça como o Senhor Jesus, acredite que: “Não só de pão viverá o homem” – isto é, Jesus confiou que Deus o sustentaria, que na Sua angústia, Deus esteva com Ele;
“Ao Senhor teu Deus, adorarás e só a Ele darás culto” – Jesus cuidou para que não ficasse tão soberbo como o próprio tentador e, tomou esta atitude, porque Ele conhecia o Nome do Senhor;
“Não tentarás o Senhor, teu Deus” – Em Mt. 26.53-54 – Jesus sabia que podia contar com legiões de anjos para libertá-lo da morte, mas não se colocou em situações vulneráveis, antes, soube se preservar da soberba e das suas consequências.

É muito comum considerarmos que o mal é tudo aquilo que outras pessoas fazem contra nós, que tanto nos prejudica, e que somos vítimas em suas mãos; todavia, não consideramos que, na realidade, se sofremos algum mal dos outros, é porque estas pessoas não tinham consciência de suas maldades, e por isso cometeram contra eles mesmos, e contra nós, as suas maldades.
Teríamos muito mais proveito se considerarmos que os maldosos somos nós mesmos. Agimos sob disfarces conosco mesmos. Não tratamos com seriedade o mal que somos capazes de cometer contra nós mesmos. Não tememos a nós mesmos.

A verdade é que o Egito com suas opressões somos nós mesmos. Causamos angústias e damos trabalhos pesados a nós mesmos, quando nos maltratamos. Somos nosso próprio Faraó, soberbo e presunçoso. Não atendendo às necessidades que a alma reclama. Segundo o apóstolo Tiago – “somos tentados pela nossa própria cobiça, que nos atrai e nos seduz” – Tiago 1.12-15. E, nossa cobiça é como o laço do passarinheiro, como a peste que não se sabe de onde surge senão quando se vê seus efeitos.
Somos nós mesmos que cobiçamos mais as coisas materiais no lugar das espirituais, e por isso às vezes dizemos: “eu sou o que tenho”;
Somos nós mesmos que cobiçamos mais prestígio e sucesso que nos leve a sermos admirados pelos outros, e por isso às vezes dizemos: “tenho que conseguir tudo o que quero, para ser admirado pelos outros, e Deus há de querer”.
         Somos o Ricardo III da Cena 3, Ato nº 5, de William Shakespeare - não tememos a nós mesmos. E, por não temermos a nós mesmos, por isso não buscamos a Deus, que é rico para com todos, está perto de nós, à nossa boca.
        Temos de intensificar a relação com o Self, na linguagem da psicologia analítica de C. G. Jung, isto é, Ele nos tirar do Egito que somos nós mesmos, com mão poderosa, braço estendido, e às vezes, pode nos causar “grande espanto”, devido aos “sinais e milagres”, quer dizer, porque só mesmo um milagre pode nos tirar das situações que nos envolvemos devido às nossas maldades.

Sugestão: depois das leituras bíblicas, ore:
Deuteronômio 26.4-10

Admitamos que muitas vezes nos apresentamos a Deus sem nenhuma oferta de gratidão, por acreditar que estamos vivos graças a nós mesmos, e às nossas capacidades humanas e terrenas. Que o Senhor nos perdoe das vezes que buscamos refúgio no “Egito”, isto é, em pessoas como nós mesmos e, não nEle, mesmo sabendo que sofremos muito por essa decisão. Confessemos a Deus das vezes que não invocamos Seu Nome, até mesmo quando estamos em angústia e sofrimento, por acreditar que logo superaremos as dificuldades, graças às nossas capacidades.

Salmo 91
Deus nos perdoa para sermos guardados e protegidos por Ele, pois Ele é a nossa fortaleza e socorro. Deus nos perdoa para estarmos seguros das doenças e armadilhas que armamos contra nós mesmos, pois Ele é o nosso escudo. Deus nos perdoa para percebermos nossa escuridão e não para sairmos dela; percebermos a violência de que somos capazes de cometer contra nós mesmos e contra nosso próximo. Deus nos perdoa para dizermos para nós mesmos: O Senhor é a nossa proteção.

Romanos 10.8-13
O Senhor está perto de nós, tão perto como nossos próprios corações e nossas bocas. Lembra-nos que confiando no Senhor, não ficamos decepcionados. Peço que nos faça confiar que é o Senhor que nos dá generosamente de tudo que precisamos, principalmente quando estamos em luta contra nossas cobiças.

Lucas 4.1-13
Para não morrermos de fome no deserto que muitas vezes transformamos nossa vida, para não sermos vencidos pelas tentações que sofremos todos os dias, precisamos de Deus.

BENÇÃO
Que o Senhor livre você das armadilhas e das doenças mortais que você tem dentro de você. Que o Senhor proteja você ao enfrentar o lado mais escuro da sua personalidade. Que o Senhor salve você da violência que é capaz de fazer contra você mesmo. Que o Senhor coloque você em um lugar seguro para evitar que a sua vida seja destruída.



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