Um dos discípulos não acredita no que vê. Seus
olhos só enxergavam os lençóis e o lenço que havia sido colocado sobre a cabeça
de Jesus.
Porém, o outro discípulo, “viu e creu” – João 20.8.
Duas atitudes sobre um mesmo fato.
Todavia, o texto de Atos 10.34-43, nos indica que é
possível mudar de opinião – o apóstolo Pedro que não havia acreditado que Jesus
havia ressuscitado, naquela manhã, passa a anunciar: “a este ressuscitou Deus
no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto” vs. 40. Pedro anuncia que era
uma das testemunhas da ressurreição de Jesus, ao romano Cornélio, apresentado
como “homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação
judaica” – vs. 22, como que querendo dizer, que se Cornélio estivesse junto ao
túmulo vazio, naquela manhã de domingo, ele creria, assim como João, o “outro
discípulo” – João 20.4,5.
A vida de Pedro, realmente, foi transformada depois
que creu.
O texto nos deixa a entender que aquele que crê
passa logo a comunicar a fé, para todas as pessoas, indiscriminada e
livremente, pois “reconhece, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas
(...) por meio do nome de Jesus, todo aquele que nele crê recebe remissão de
pecados” – Atos 10.34.
De fato, a transformação na vida de Pedro foi muito
grande!
Anuncia a um romano que Deus tem a mesma disposição
que teve para com ele – se Deus perdoa os pecados de todo aquele que crê em
Jesus, mesmo daquele que não acreditou de imediato, apesar de ver os sinais da
Sua ausência, também, de um romano que creu nAquele que “andou por toda parte,
fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo” – vs. 38; e, isto sendo
anunciado pelo judeu Pedro, demonstra o quanto sua visão de vida sofrera
transformação.
Pedro poderia ter levado Cornélio a se sentir
culpado pela crucificação de Jesus, pois como centurião romano obedecia a
ordens do governador de Roma que reinava em Israel, e que teve participação
direta no julgamento e condenação de Jesus à morte.
No entanto, Pedro apela a Cornélio que considerasse
que Jesus fora “pendurado no madeiro”, porque andou por toda a parte fazendo o
bem.
Pedro levou Cornélio a enxergar os sinais de Jesus,
assim como vira os lençóis e o lenço no sepulcro, e não havia se lembrado do
bem que Jesus havia feito, e que tantas vezes ele havia presenciado.
A ressurreição de Jesus transformou o judeu Pedro,
o que o levou a aprender a fazer o bem ao romano Cornélio, deixando de lado o
seu orgulho, o seu egoísmo, o seu sentimento de se ver grande e melhor do que
os outros.
Fazer o bem aos outros, é sinal de que acreditamos
no Jesus que não está no túmulo.
Afinal, é esta a mensagem de Paulo aos coríntios –
I Coríntios 5.6-8 – “Não é boa a vossa jactância” – Paulo vê que a arrogância é
o grande empecilho para celebrar a festa da Páscoa.
O Apóstolo Paulo compara a arrogância ao fermento,
que por mínima quantidade que seja, pode fazer com que a pessoa se sinta tão
superior aos demais que não percebe que não é ela que se justifica dos seus
pecados, mas sim “Cristo, nosso Cordeiro Pascal, imolado” – vs. 7.
E, ensina a “lançar fora (...) o fermento da
maldade e da malícia”, antes “celebremos a festa com os asmos da sinceridade e
da verdade” – vs. 8.
Os “asmos da sinceridade e da verdade” precisam
comidos por nós mesmos, quer dizer, sermos sinceros e verdadeiros para conosco
mesmos, para percebermos o quanto somos tão imperfeitos quanto aqueles que
julgamos e condenamos.
Só quem é sincero e verdadeiro consigo mesmo, sabe
o quanto é importante fazer o bem aos outros, e principalmente àqueles
considerados inferiores aos seus olhos, porém, para Deus não é diferente,
antes, recebe dEle o mesmo amor e perdão, pois do contrário não poderíamos crer
nEle.
O texto de João 20.1.9 nos apresenta pessoas que se
formos arrogantes, facilmente as consideramos inferiores a nós: Maria Madalena
prostituta convertida, Pedro um iletrado, João um pescador.
Os três são apontados pelo texto bíblico como
“ainda não tinham compreendido a Escritura, que era necessário ressuscitar ele
dentre os mortos” – vs. 9.
Maria Madalena, diante do túmulo aberto, disse:
“Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram”;
Pedro e João correram juntos, e diante do mesmo
cenário, têm reações tão diferentes: um vê e crê, o outro só vê, e procura
entender, mas não entende, e os dois voltam para casa, e Madalena “permanece
junto à entrada do túmulo, chorando. Viu Jesus em pé, mas não reconheceu que
era Jesus, suponha ser Ele o jardineiro” – vs. 10, 11, 14, 15.
Dá para ver o quanto somos parecidos com eles?
Perguntemo-nos: considerando as grosseiras e
públicas fraquezas de Maria Madalena, Pedro e João, teriam eles chances de
ganharem a nossa aproximação, e amizade?
Espero que sim, pois compartilhamos da mesma
natureza humana deles; e se eles podem, eu também posso, e você também pode se
aproximar e ser amigo de quem quer que seja.
A pressa de compreender as coisas nos prejudica.
Queremos que tudo seja explicado - não toleramos
dúvidas, porque temos medo de nos sentir inferiores aos outros.
Quanta preocupação com as certezas, só para nos
sentirmos melhor que os outros!
Como pode o “conhecimento” nos deixar tão cheio de
nós mesmos! E, onde fica: “Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em
qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável”?
Quem deve julgar se o que é feito pelos outros é
justo ou não, aceitável ou não, é Deus, pois Ele é o único que pode julgar!
Quem somos nós para julgar?
A nós nos cabe comer o pão da sinceridade e da
verdade conosco mesmos.
Maria Madalena, Pedro e João, se alimentavam deste
pão, principalmente depois de terem se convertido ao Senhor.
E, você, tem comido deste pão?
Lembre-se de se alimentar do “Cordeiro Pascal” –
Jesus morreu para que os seus pecados fossem perdoados, e para que os pecados
dos outros, também fossem perdoados.
O “Cordeiro Pascal” é alimento para todas as
pessoas, que se veem necessitadas do perdão de Deus, porque se percebem
imperfeitas, grosseiras, baixas, incapazes de acertar sempre.
“Celebremos a festa não com o velho fermento, nem
com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da
verdade” – I Coríntios 5.8.
Aprofundemos ainda mais o sentido destas palavras:
Não estariam elas nos desafiando a passar diariamente pela experiência da
Ressurreição?
“Celebrar a festa não com o velho fermento”,
significa, diariamente, transformar
a falta de educação em ternura, a insatisfação em contentamento, a mentira em
verdade, a dissimulação em honestidade, a maldade em caridade, a opressão em
liberdade, a indiferença em solidariedade.
“Celebrar a festa não com o fermento da maldade e da malícia”, significa
que diariamente precisamos transformar a nossa sede por recompensas em reflexão,
de cinismo em vergonha, de perseguições em acolhimento, de exploração em
amizade, de moralismos em tolerância, de preconceito em convivência, de
discriminação em intercessão, de maledicência em bem-dizer.
“Celebrar a festa não com o velho fermento”, também significa se
empenhar de fazer da melancolia, prazer; da inveja, alegria; da morbidez,
beleza; daquilo que é trágico, em utopias; das perdas, conquistas; da altivez,
humildade; da arrogância, simplicidade; da ambição, igualdade; do consumismo,
sentido de vida; das exigências aos outros, autocrítica.
“Celebrar a festa com os asmos da sinceridade e da verdade”, significa,
entre outras coisas: transformar ocupação em lazer, extinção em preservação,
traição em diálogo, reducionismo em memorial, imediatismo em paciência,
iconografia em história, grotesco em cordialidade, fundamentalismos em
diversidades, sensacionalismo em conteúdo, midiático em bom-senso, corrupção em
temor, desigualdade em fraternidade, intolerância em paz, autoajuda em
sabedoria, técnica em proximidade, esoterismo em espiritualidade, enganos em
acertos, isolamento em pertencimento, ter em ser, descartável em permanência,
alienação em consciência, banalização em valores, magia em espera, igreja em
religião/espiritualidade, relativismo em padrão ético, morte em vida.
“Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de
fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado.” –
I Coríntios 5.7 – Nisto está o sentido da Páscoa experimentado por Pedro,
Cornélio, Paulo, Maria Madalena, João, os coríntios – eles se transformaram em
“nova massa”.
Oxalá, eu e você, também!
Boa Páscoa!
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