Carl Gustav Jung (1875-1961), registra
para quem dirige suas visões acerca da religião, e a define como:
"Não me dirijo aos beati
possidentes (felizes
donos) da fé, mas às numerosas pessoas para as quais a luz se apagou, o
mistério submergiu e Deus morreu. (...) Para compreender as coisas religiosas
acho que não há, no presente, outro caminho a não ser o da psicologia; daí meu
empenho de dissolver as formas de pensar historicamente petrificadas e
transformá-las em concepções da experiência imediata. É, certamente, uma empresa
difícil reencontrar a ponte que liga a concepção do dogma com a experiência
imediata dos arquétipos psicológicos, mas o estudo dos símbolos naturais do
inconsciente nos oferece os materiais necessários" (Psicologia da
Religião. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 94. Obras Completas; V. 11/1: par. 148).
Definições:
"Encaro a religião como uma atitude
do espírito humano, atitude que de acordo com o emprego originário do termo:
"religio", poderíamos qualificar a modo de uma consideração e
observação cuidadosas de certos fatores dinâmicos concebidos como
"potências": espíritos, demônios, deuses, leis, ideias, ideais, ou
qualquer outra denominação dada pelo homem a tais fatores; dentro de seu mundo
próprio a experiência ter-lhe-ia mostrado suficientemente poderosos, perigosos
ou mesmo úteis, para merecerem respeitosa consideração, ou suficientemente
grandes, belos e racionais, para serem piedosamente adorados e amados"
(JUNG, C. G. Psicologia da Religião. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 10. Obras
Completas; V. 11/1: par. 8)
"Religião é – como diz o vocábulo
latino relegere – uma acurada e conscienciosa
observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de
numinoso, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico, não causados por um ato
arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano, mais
vítima do que seu criador” (JUNG, C. G. Psicologia da Religião.
Petrópolis, Vozes, 1987, p. 9. Obras Completas; V. 11/1: par. 6).
“A religião significa dependência e
submissão aos dados irracionais. Estes não estão diretamente relacionados às
condições físicas e sociais mas sobretudo à atitude psíquica do indivíduo. No
entanto, uma atitude ante as condições externas da existência só é possível se
existir um ponto de vista alheio a elas. As religiões oferecem esta base ou, ao
menos, tentam oferecer e, com isso, propiciam ao indivíduo a possibilidade de
julgar e tomar suas decisões com liberdade. Elas significam uma reserva diante
da pressão inevitável e patente das condições externas, às quais se entrega
todo aquele que vive apenas para o mundo exterior e não possui, dentro de si,
qualquer ponto de apoio. Para ele, a realidade estatística, quando existe, é a
única autoridade. Na existência de apenas uma condição, e nenhuma outra, a
liberdade de julgamento e decisão revela-se supérflua e mesmo impossível. O
indivíduo fatalmente passa a constituir uma função estatística e, em consequência
uma função do Estado, ou qualquer outro nome que se use para exprimir o
princípio abstrato de ordenamento. As religiões, porém, ensinam uma outra
autoridade oposta à do “mundo”. A doutrina que ensina que o indivíduo depende
de Deus representa uma exigência tão grande sobre ele quanto a do mundo”
(Presente e futuro. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 09. Obras completas
V. X/1, par. 505-507).
“A religião, no sentido da observação
cuidadosa e consideração de certos fatores invisíveis e incontroláveis,
constitui um comportamento instintivo característico do homem, cujas
manifestações podem ser observadas ao longo de toda a historia da cultura. Sua finalidade
explícita é preservar o equilíbrio psíquico do homem, pois ele sabe de maneira
espontânea que sua função consciente pode ser perturbada, de uma hora para
outra, por fatores incontroláveis, tanto de natureza exterior como interior. Dessa
maneira, o homem sempre cuidou para que toda decisão grave fosse, de certo
modo, sustentada por medidas religiosas” (Presente e futuro. 4ª edição.
Petrópolis: Vozes, 1999, p. 12. Obras completas V. X/1, par. 512).
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