domingo, 13 de janeiro de 2013

Enfrentando quando nada dá certo


O que fazer quando os problemas não são resolvidos, mas ao invés disto, outros surgem, e a situação que já era difícil, piora ainda mais?
Talvez você esteja enfrentando situações que dão sinais de que os problemas além de não terem diminuído, antes tudo se complicou mais ainda.
O Salmo 71, nos ilustra bem esta situação.
O envelhecimento chegou para o salmista de tal maneira, que os seus problemas aumentaram.
Ele não pode mais contar com ele mesmo, como antes. As limitações chegaram aos poucos, e de modo implacável avançaram a cada dia, deixando-o abalado.
Ao invés de viver sem problemas seus últimos dias de vida, conforme, provavelmente, seja o sonho de todos nós, para ele a longevidade era um grande e difícil problema.
Aos outros ele é tido como um “portento” – vs. 7 – alguém que ainda consegue vencer as situações com a mesma disposição que sempre demonstrou, como se fosse um milagre, mas ele sabia que não era mais o mesmo, mas que só se mantinha de pé porque o Senhor estava com ele. 
Suas “forças” estão faltando – vs. 9 – ele estava vivendo na pele o que o escritor dos Eclesiastes – 12.1-7 – descreve acerca da última fase da vida dos homens – o envelhecimento.
Para Salomão, o envelhecimento é o período em que se diz, ainda que no íntimo e na solidão do quarto:
que não se tem mais alegria e tudo se torna cansaço e aborrecimento; que não se tem mais as mesmas possibilidades;
que as oportunidades passam a ser consideradas como limitações, como impedimento de fazer o que faria, se fosse mais jovem;
que o trabalho se torna algo penoso, e não mais como um serviço em benefício próprio, porque os braços e pernas estão fracos, isto é, a massa muscular não consegue mais sustentar o corpo, não podendo ir onde gostaria de estar, que quando era jovem, certamente realizaria, sem considerar obstáculo algum;
que os olhos não são mais os mesmos: o prazer de enxergar as belezas da natureza não é mais possível, o encantar-se com a leitura, já se tornou dificuldade, com a desculpa do tamanho da letra;
que para viver alguns dias a mais, depende de remédios para quase tudo: para a pressão, para dormir, para abrir o apetite, para respirar melhor, etc.
O envelhecimento é problema, quando não se pode falar desimpedidamente, porque os lábios perderam a elasticidade e ficaram murchos, ou então, o que é mais comum e infelizmente mais triste, não se pode dizer o que se quer, porque logo é censurado pelos familiares, que nunca foram autorizados a responder por nossa vida e se intrometem em assuntos, que antes eram tratados com independência e liberdade, ou então, porque os lábios não acompanham mais a memória, que falha e impedem de falar das lembranças mais recentes, e nos deixam amargurados pelas lembranças mais desagradáveis do passado, ou ainda, as palavras saem fracas e tremidas, como que volta a ser criança, pela necessidade de fazer uso dos profissionais da fonoaudiologia.
Quando não se ouve bem, e que às vezes, mesmo fazendo limpeza dos ouvidos, ainda assim precisa de aparelho auditivo, e há momentos quando se percebe que as pessoas ficam incomodadas, apesar do esforço que se faz para, simplesmente, ouvir, e as pessoas não percebem que é a pessoa que está incomodada com a baixa audição.
Quando o apetite alimentar não é mais o mesmo. A dieta alimentar é sem graça; não pode mais comer do que mais gosta e quer, porque a taxa de colesterol está acima do normal.
Quando sente que a morte está mais perto do que nunca, e que o fim é muito triste.
E, para piorar ainda mais a situação, que já não é agradável, como se fosse possível piorar o que já está complicado, quando alguns fatos aborrecem, entristecem e preocupam. Ou seja, ao invés de descansar em paz, como desejou a velhice, fica-se espantado e assustado com o que se vê. 
Voltando ao Salmo 71, o salmista acrescenta que as angústias e os males aumentaram, ao invés de diminuírem – vs. 20.
Ao invés dos problemas serem resolvidos e a vida tomar um rumo de alegria e felicidade, é como se o coração ficasse mais apertado, porque não se tem mais a energia, o entusiasmo de quando era jovem.
Não é mais a mesma pessoa, que antes não se preocupava com certas coisas, mas que agora as consequências parecem ser piores e aumentaram mais, à medida que a consciência de que não se é mais o mesmo.
É como se repetisse o que acontecera na adolescência – não era mais criança, mas também não era jovem, e assim, viveu durante um certo tempo, sem saber o que realmente é.
Mas, não é só biologicamente que sofremos as limitações físicas da vida, em que as barreiras se tornam instransponíveis. Psicologicamente, ou emocionalmente, também passamos por situações semelhantes, isto é, vivemos situações que os problemas não diminuem:
a auto-estima não se eleva;
a irritação, mau humor e atitude pessimista em relação à vida continuam tirando a alegria de viver;
o interesse sexual diminui;
a ansiedade aumenta;
a depressão continua a nos engolir vivos;
o egoísmo e a pretensão se fortalecem; etc.
E, emocionalmente abalados, nosso sistema de defesa enfraquece e facilmente contraímos doenças oportunistas: gripes e resfriados; dores de cabeça crônicas; úlceras nervosas; doenças de fundo emocional, que os exames médicos não conseguem diagnosticar; e tudo isso, nos leva a desenvolver vários tipos de câncer ou doenças degenerativas, como Mal de Alzheimer, entre outras.
Deixemos para os diversos especialistas das áreas médicas e outras, os conselhos para que a vida biológica seja o mais saudável possível, mas tomemos os textos bíblicos – Salmo 71, Jeremias 1.4-5, 17-19, I Coríntios 12.31-13.13, Lucas 4.21-30, como instruções para nossa alma, do que podemos fazer quando os problemas não são resolvidos, mas ao invés disto, outros surgem e a situação que já era difícil, piora ainda mais.
Jeremias 1.4-5, 17-19 – nos diz: “cinge os lombos, dispõe-te e fique firme como uma cidade fortificada, como uma coluna de ferro e como muros de bronze. Muitos pelejarão contra você, mas não prevalecerão, porque Eu sou contigo”.
É como dissesse: “Eu estou com você. Mesmo quando as situações já poderiam estar melhores, mas ao contrário, outros problemas apareceram, e tudo se tornou mais difícil. Confie em mim, apesar de tudo. Eu estou com você e o livrarei”.
São muitas as palavras do Salmista – 71 – do que podemos fazer quando ao invés dos problemas serem resolvidos, outros surgem, e a situação que já era difícil, piora ainda mais:
Orar por você mesmo;
apresente sua vida todos os dias a Deus;
peça a Deus para que Ele seja a Tua Rocha firme, quando as situações pioram;
apoie-se sempre nEle;
seja Ele a Tua esperança e sua única ajuda;
não se esqueça de louvar a Deus, ainda que só com palavras, mas que seja de dia e de noite;
louve a Deus, não é só cantar, mas falar do que Ele já fez por você, mesmo que seja só para você, mas conte aos outros também, mas não se esqueça de louvar a Deus, com a música também - não sufoque a música que existe dentro do teu peito, cante bem alto e com alegria;
lembre-se que você pode ser a única prova do milagre de que Deus está com os homens;
ainda que você esteja velho, não se afaste dos jovens para que eles sejam instruídos pelo seu testemunho de vida;
ainda que você enfrente problemas maiores e tristezas piores, confie no Senhor que lhe devolverá a alegria de viver e entusiasmo, mesmo quando for velho ou velha, da mesma maneira, quando você era criança;
não se esqueça que Deus é o mesmo desde a sua infância.
Na experiência do Apóstolo Paulo – I Coríntios 12.31-13.13 – o que podemos fazer quando os problemas não são resolvidos, mas ao invés disto, outros surgem, e a situação que já era difícil, piora ainda mais, está em tomarmos uma atitude de amor pela vida:
É o amor pela vida que nos faz andar de mãos dadas uns com os outros, apesar das nossas diferenças;
sermos sensíveis à beleza, apesar de às vezes o medo querer nos deformar;
sermos bondosos, apesar da violência e a crueldade que muitos estão tomando como normas da existência;
sermos verdadeiros, não pelo amor da verdade que fere e não ajuda a esquecer as fraquezas de que se é possuído, e que tortura o semelhante, mas sermos verdadeiros para conosco mesmos, isto é, não fugirmos de nossas fraquezas e maldades, do quanto somos culpados pela infelicidade dos outros, sermos verdadeiros para conosco mesmos, de nos encararmos de frente, de quanto ódio temos dentro de nós, de quanto nos achamos melhores do que os outros. 
Para Jesus, o que podemos o que fazer quando os problemas não são resolvidos, mas ao invés disto, outros surgem, e a situação que já era difícil, piora ainda mais? – conforme Lucas 4.21-30:
não desista do bem, ainda que por causa disso, você arrume inimigos;
lembre-se: você não está aqui para fazer aos outros, nem que esperam de você, para que você seja amigo deles - você está aqui para fazer aos outros, algo que atenda às necessidades deles;
faça como Jesus, não se iguale aos que querem que pense como eles, só porque é maioria;
passe por entre a multidão e deixe de lado os que querem obrigá-lo a ser igual a eles;
seja como Jesus.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Diferença entre confissão religiosa e religião

“A confissão admite uma certa convicção coletiva, ao passo que a religião exprime uma relação subjetiva com fatores metafísicos, ou seja, extramundanos. A confissão compreende, sobretudo, um credo voltado para o mundo em geral, constituindo assim, uma questão intramundana. Já o sentido e a finalidade da religião consistem na relação do indivíduo com Deus (cristianismo, judaísmo, islamismo) ou no caminho da redenção que, sem a responsabilidade individual perante Deus, não passariam de moral e convenção.
As confissões, enquanto compromissos com a realidade mundana, evoluíram, consequentemente, para uma crescente codificação de suas visões, doutrinas e usos. E assim se exteriorizaram de tal maneira que o elemento religioso verdadeiro nelas – a relação viva e o confronto imediato com o ponto de referência extramundano delas – foi posto, na verdade num plano secundário. O ponto de vista confessional toma a doutrina tradicional como parâmetro para o valor e o significado da referência religiosa subjetiva. E mesmo quando isso não é tão frequente (como no caso do protestantismo), fala-se de pietismo, sectarismo, fanatismo, etc., quando alguém se diz guiado pela vontade de Deus. A confissão coincide com a Igreja oficial ou, pelo menos, se constitui como uma instituição pública, à qual pertencem não apenas os fiéis mas também um grande número de pessoas indiferentes à religião, que se integram por simples hábito. Aqui torna-se visível a diferença entre confissão e religião.
Pertencer a uma confissão, portanto, nem sempre implica uma questão de religiosidade mas, sobretudo, uma questão social que nada pode acrescentar à estruturação do indivíduo. Esta depende da relação do indivíduo com uma instância não mundana. Seu critério não é o credo e sim o fato psicológico segundo o qual a vida do indivíduo não pode ser determinada somente pelo eu e suas opiniões ou por fatores sociais, mas igualmente por uma autoridade transcendente. O que fundamenta a autonomia e a liberdade do indivíduo, antes de qualquer máxima ética ou confissão ortodoxa, é, única e exclusivamente, a consciência empírica, ou seja, a experiência unívoca de uma dinâmica de relacionamento pessoal entre o homem e uma instância extramundana que se apresenta como um contrapeso ao “mundo e sua razão (Presente e futuro. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999, pp. 9-10. Obras completas V. X/1, par. 507-509).

Tanto o Estado ditatorial quanto a religião confessional reforçam, de maneira especial, a ideia de comunidade. Este é o ideal básico do comunismo que, no entanto, devido à forma como é imposto ao povo, gera justamente o contrário do efeito desejado, ou seja, um Estado de desconfiança e separação. A Igreja, não menos que o Estado, também faz apelo ao ideal comunitário e quando sua fraqueza é visível como no caso do protestantismo, a penosa falta de coesão é compensada pela esperança e fé numa “vivência comunitária”. Como se pode perceber, a “comunidade” é um instrumento indispensável para a organização das massas, constituindo, no entanto, uma fava de dois gumes. Assim como a soma de dois zeros jamais resulta em um, o valor de uma comunidade corresponde à média espiritual e moral dos indivíduos nela compreendidos. Por isto, não se pode esperar da comunidade qualquer efeito que ultrapasse a sugerstao do meio, ou seja, uma modificação real e fundamental dos indivíduos, quer numa boa ou numa má direção. Esses efeitos só podem ser esperados do intercâmbio pessoal entre os homens e não dos batismos em massa comunistas ou cristãos que não conseguem atingir o homem em sua interioridade. Os acontecimentos contemporâneos nos mostram como a propaganda comunitária é superficial. O ideal comunitário desconsidera o homem singular que, em última instância, é quem responde às suas exigências. (Presente e futuro. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999, pp. 13-14. Obras completas V. X/1, par. 516).

“Embora as Igrejas no Ocidente gozem, em geral, de inteira liberdade, elas não estão menos cheias ou vazias do que no Leste. Contudo, eleas não exercem nenhuma influência significativa sobre o universo da política. A grande desvantagem da confissão, no sentido de uma instituição pública, é justamente o fato de servir ao mesmo tempo a dois senhores. De um lado, ela nasce da relação do homem com Deus e, de outro, tem obrigações para com o Estado, isto é, o mundo, o que nos faz pensar palavra – “Dai a César o que é de César, e a Deus, o que é de Deus” – e nas demais exortações do Novo Testamento.
Nos tempos antigos, e relativamente até bem pouco tempo, falava-se de uma “autoridade constituída por Deus”. Hoje, isso nos parece bastante antiquado. As Igrejas representam convicções tradicionais e coletivas que, para a grande maioria de seus adeptos, não mais se baseiam na própria experiência interior, e sim na fé irrefletida que rapidamente desaparece, tão logo se pense com mais profundidade sobre o seu sentido. O conteúdo da fé entra em conflito com o saber, evidenciando-se, desse modo, que a irracionalidade de uma nem sempre supera a razão da outra. Na realidade, a fé não é uma substituição suficiente da experiência interior e, quando esta inexiste, até mesmo uma fé forte pode, enquanto um donum gratiae (dom da graça), aparecer e desaparecer como por encanto. Designa-se a fé como a autêntica experiência religiosa mas não se leva em conta que ela é, mais propriamente, um fenômeno secundário que depende de um acontecimento primeiro, em que algo nos atinge e inspira a “pistis”, isto é, lealdade e confiança. Essa vivência tem um conteúdo específico que se interpreta no sentido da doutrina confessional. Quanto mais é interpretado nesse sentido, maior as possibilidades de conflito com o saber. A concepção confessional é, na verdade, muito antiga e dotada de um simbolismo impressionante e mitológico que, literalmente, leva a uma oposição radical com o saber. Contudo, se compreendermos, por exemplo, a ressurreição de Cristo de maneira simbólica e não literal, obteremos interpretações diversas que não entram em choque com o saber nem prejudicam o sentido da afirmação. A objeção de que uma compreensão simbólica poderia destruir a esperança dos cristãos na imortalidade, representada pela vinda de Cristo, é infundada, uma vez que a humanidade, bem antes do cristianismo, já acreditava numa vida depois da morte e, assim, não precisava do acontecimento pascal para garantir essa esperança. O perigo do exagero de literalidade na compreensão da mitologia, que pervade toda a doutrina da Igreja, pode culminar na sua recusa absoluta. E hoje ele é maior do que nunca. Já não seria hora de se entender de modo simbólico, definitivamente, os mitologemas cristãos, ao invés de negá-los?
[...] Quem foi sempre ensinado a se submeter incondicionalmente a uma fé coletiva e a abdicar do eterno direito de sua liberdade e do respectivo dever de sua responsabilidade individual, permanecerá na mesma atitude, com a mesma fé e falta de crítica, se enveredar para uma direção oposta ou substituir o idealismo confessado por outra convicção, mesmo considerada 'melhor'”.
(Presente e futuro. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999, pp. 16-18. Obras completas V. X/1, par. 520-521, 523).

Epifania

Epifania – aparição de Jesus entre os homens.
No Antigo Testamento Deus aparecera muitas vezes e de diversas maneiras. Muitas pessoas tiveram o privilégio de vê-Lo, fosse em sonhos ou visões.
Esta aparição provocou alteração na vida dos que O viram:
Os magos que vieram do Oriente, mesmo sendo não judeus, conforme estava previsto, converteram-se ao Deus dos judeus e entregaram-lhe ofertas: por perceberem que se tratava do Rei soberano, ofertaram-lhe ouro; que se tratava de Deus, incenso; que se tratava de homem, entregaram mirra.
O texto de Mateus 2.1-12, nos diz que vindos do Oriente, voltaram às suas terras levando consigo algo diferente, enquanto que no Palácio, o rei Herodes, demonstrou o que era mais importante: o poder ao amor; sua fúria o levou a matar inocentes, apavorar os habitantes de seu reinado.
No entanto, Isaías 60.1-6, ao falar da reconstrução de Jerusalém, dá entender o que a aparição do Senhor trouxe aos seus habitantes.
O povo que vivia tempos de angústia e opressão podia esperar ser reconstruído, e novamente resgatar sua dignidade e a paz. Todos são chamados a se levantar, pois um grito os desperta: “Dispõe-te e resplandece”. A tristeza não tem mais sentido, a miséria chegou ao fim, fraqueza é coisa do passado.
É o Senhor que aparece e ilumina com a Sua luz, por isso o profeta diz: “Dispõe-te. Fique em pé. A luz do Senhor é a sua salvação. Quando Deus aparece Ele salva e todos ficam cheios de alegria”.
O mesmo se deu com os pastores: ao verem o menino voltaram, “glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham ouvido e visto” – Lc. 2.20, pois ouviram a mensagem do anjo do Senhor - “não temais; eis que vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo” – Lc. 2.10.
A aparição do Senhor comove a todos: aqueles que levantam os olhos O enxergam. Todos que crêem no Senhor ficam “radiantes de alegria”. O Senhor aparece como a luz do sol que afugenta as trevas da noite. Todos querem a Sua luz, a Sua salvação.
Uma alegria tão grande que faz com que todos esqueçam os tempos difíceis que viviam. A cidade governada por príncipes e reis opressores, sem perspectivas de futuro, ao ver o Senhor passará por uma transformação, “o teu coração estremecerá e se dilatará de júbilo” – Is. 60.5.
O coração que antes estava paralisado diante das aflições e tristezas, e apertado devido às apreensões que vivia, agora pulará e se abrirá de júbilo e alegria. Uma experiência de prazer.
Para o apóstolo Paulo, esta aparição se deu em Cristo, que como um segredo, antes restrito aos profetas, agora é para todos que levantam os olhos. Privilégio não só para os judeus, mas também aos não-judeus. A promessa de Deus é estar junto de todos os homens, e isto pode nos dar um imenso prazer e alegria – Ef. 3.2-6.
Para o Salmista, a aparição do Senhor significa que Ele está com Seu povo para julgar as causas dos aflitos, proteger como os montes protegem a cidade, pois como está no alto não é atingida pelos inimigos, salvar das necessidades.
Sua aparição é para sempre, jamais os deixará - “Ele permanecerá enquanto existir o sol e enquanto durar a lua, através das gerações” – Salmo 72.5.
Sua aparição faz o “justo florescer” – Sl. 72.7 – porque Ele acode ao necessitado que clama e também ao aflito e ao desvalido. Ele tem piedade do fraco e do necessitado e salva a alma dos indigentes – Salmo 72.12-13.
Se quisermos compreender espiritualmente este registro, a psicologia de Carl Gustav Jung nos ajuda, levando em conta a seguinte observação:
Mais do que um ponto defendido pela confissão religiosa, a aparição de Deus é um fator metafísico, isto é, extramundano, fora dos padrões comuns da ordem de todas as coisas.
As pessoas que vivenciaram a experiência do Menino em Belém, não estiveram diante de uma mensagem convencional nem moral, transformando-a em uma doutrina ou dogma, mas estiveram face a face com o Sagrado. Eles não partiram para uma codificação da experiência. Antes, a experiência extramundana passou a ser o maior ponto de referência de suas vidas. Na ausência de um dogma a ser seguido, eles preferiram guardar a experiência viva, pois não podiam transformar aquele acontecimento um hábito que poderia ser repetido, como um evento social, mas sim, porque a experiência deu-lhes uma nova estrutura de vida.
Suas vidas passaram a ser determinadas não mais pelas suas opiniões pessoais ou pelas convenções sociais, culturais, familiares, econômicas que viviam, mas por terem se encontrado com uma "autoridade transcendente", isto é, por algo que não se encontrava em nenhum dado natural, terreno e conhecido, que poderiam fazê-lo repetir-se indefinidamente.
Como afirma Jung:
"O que fundamenta a autonomia e a liberdade do indivíduo, antes de qualquer máxima ética ou confissão ortodoxa, é, única e exclusivamente, a consciência empírica, ou seja, a experiência unívoca de uma dinâmica de relacionamento pessoal entre o homem e uma instância extramundana que se apresenta como um contrapeso ao “mundo e sua razão" (Presente e futuro. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 10. Obras completas V. X/1, par. 509).

Sugestão: após as leituras bíblicas, ore!
Isaías 60.1-6
Admitimos que não andamos na luz do Senhor que brilha diante de nós, na pessoa de Jesus Cristo. Reconhecemos que não vemos que o Senhor está sobre nós, apesar de tantos sinais, porque nosso coração está fechado no egoísmo, na teimosia e na falta de vontade de servi-Lo. Confessamos que nossos olhos e rostos são voltados mais à desobediência que ao temor; mais à infidelidade que ao serviço; mais à opressão que ao amor solidário.
Salmo 72
Deus nos perdoa para reinar soberanamente sobre todos nós. Deus nos perdoa porque somos pobres e nos socorre em nossas necessidades, para não ficarmos abandonados a nós mesmos e aos nossos pecados. Deus nos perdoa porque somos preciosos aos Seus olhos, por isso nos salva da exploração e da violência que somos capazes de cometer uns contra os outros. Deus nos perdoa para brilhar sobre nós a luz do Seu rosto, para sempre, porque só nEle temos salvação e alegria.
Efésios 3.2-6
Graças Te damos porque nos incluíste na Aliança da Tua Graça, em ter nos dado Jesus Cristo, Teu Filho, para ser nosso Salvador e Senhor, conforme nos diz o Evangelho; nos permites desfrutar das Tuas promessas; faz-nos participantes vivos desta benção. Leve-nos a fazer com que mais pessoas venham a usufruir da mesma alegria que nos dás.
Mateus 2.1-12
ORAÇÃO POR ILUMINAÇÃO
Que a Tua Palavra nos leve a nos encontrarmos com Jesus, o Cristo, para O adorarmos. Fale conosco assim como falaste com as pessoas que viveram aquele momento de modo tão íntimo e vivo. Que a Tua Palavra, também, nos faça ver que o Senhor está diante de nós.
BENÇÃO
 Que o Senhor esteja com você todos os dias, de tal maneira que você seja muito alegre, porque Ele te defende, te ajuda, te protege em todas suas necessidades e dificuldades.
Que o seu coração esteja aberto ao júbilo e à alegria, isto é,
que você viva com prazer, a vida que Ele te dá.
Deus está junto de nós em todos os momentos.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Onde estava Deus diante de tanta beleza do mundo?

(Gravura feita por Jung publicada no Livro Vermelho. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 64) 

A experiência que funda a concepção de Jung acerca da religião, é registrada:
“Num belo dia de verão do mesmo ano (1887), voltando do colégio ao meio-dia, passei pela praça da catedral (Basileia). O céu estava maravilhosamente azul, o sol brilhava em toda a sua luminosidade. O teto da catedral cintilava ao sol que acendia chispas nas telhas novas e brilhantes. Sentia-me deslumbrado pela beleza desse espetáculo e pensava: “O mundo é belo, a igreja é bela, e Deus, que criou tudo isso, está sentado lá no alto, no céu azul, num trono de ouro...” (Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p.45).

Jung aos doze anos de idade, considerou a distância do “Bom Deus”, como ele declara, como o mais grave dos pecados contra O próprio, pois não vivenciava as belezas do mundo real, banhado pela luz do sol, aquecido pelo seu calor, cercado por um azul celestial.
Três dias mais tarde, desesperado pela experiência mística e temendo causar “grande tristeza aos pais” (pai pastor luterano e mãe religiosa – “eles são bondosos”), Jung entrega-se à experiência crendo: “Deus sabe que não posso resistir mais tempo e não acorre para me ajudar, vendo que estou a ponto de sucumbir ao pecado para o qual não há perdão. Dada Sua Onipotência, ser-LHE-ia fácil livrar-me desta coação. Mas Ele nada faz. Estaria pondo à prova minha obediência obrigando-me a fazer algo que me revolta no mais extremo grau, no temor da danação eterna? Na verdade, estava sendo levado a pecar contra meu próprio julgamento moral, contra os ensinamentos da religião e mesmo contra Seu próprio mandamento. Talvez Ele estivesse querendo ver se eu obedeceria à Sua vontade, ainda que minha fé e minha inteligência me fizessem temer o Inferno e a danação. Podia ser! Mas estas ideias são minhas e posso me enganar. Como aventurar-me, confiando em minhas próprias reflexões? Preciso pensar tudo de novo! Cheguei à mesma conclusão: “Deus, evidentemente, está pondo à prova a minha coragem”, pensei: “Se for assim e eu triunfar, Ele me dará Sua graça e Sua luz” (Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p.47).
Nenhuma profissão de fé se compara a esta! Declaração pessoal de uma experiência semelhante aos que creem sinceramente, e se entregam à Graça divina.
Resultado?

“Reuni toda a coragem, como se fosse saltar nas chamas do inferno e deixei o pensamento emergir: diante de meus olhos ergue-se a bela catedral e, em cima, o céu azul. Deus está sentado em seu trono de ouro, muito alto acima do mundo e, debaixo do trono, um enorme excremento cai sobre o teto novo e colorido da igreja; este se despedaça e os muros desabam. Então era isto! Senti um alívio imenso e uma libertação indescritível: em lugar da danação esperada, a graça descera sobre mim e com ela uma felicidade indizível, como jamais conhecera! Chorei lágrimas de felicidade e de gratidão, porque a sabedoria e a bondade de Deus me haviam sido reveladas, depois de me haverem sujeitado a seu impiedoso rigor. Fora como uma iluminação” (Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p.47).
Estamos dispostos a passar por uma experiência semelhante?
É necessário "coragem e deixar o pensamento emergir"!
A imagem que seguir não tem a mínima importância!
A graça de Deus é maior do que qualquer danação que a fraqueza humana pode levar-nos a crer, ainda que piedosamente.
A "felicidade indizível" é uma experiência possível! É como se fosse Deus se "encarnasse" no homem! E, é justamente isto que Jung explica:
"A imagem de Deus não coincide propriamente com o inconsciente em si, mas com um conteúdo particular deste última, isto é, com o arquétipo do Si-mesmo. Este último já não podemos separar, empiricamente, da imagem de Deus. É possível postular arbitrariamente uma diferença entre estas duas grandezas, mas isto de pouco adiantará; ao contrário, só contribuirá para separar o homem de Deus, impedindo, com isto, a encarnação de Deus. A fé tem razão, quando faz o homem ver e sentir no mais profundo de si mesmo a imensidão e inacessibilidade de Deus; mas ela também nos ensina a proximidade, e mesmo a imediata presença de Deus. É precisamente esta proximidade que deve ser empírica, se não quisermos que ela seja inteiramente desprovida de importância. Só posso conhecer como verdadeiro aquilo que atua em mim. Mas o que não atua em mim pode também não existir. A necessidade religiosa reclama a totalidade, e é por isso que se apodera das imagens da totalidade oferecidas pelo inconsciente, que emergem das profundezas da natureza psíquica independentemente da ação da consciência" (Resposta a Jó. Petrópolis: Vozes, 1986, pp. 111-112. Obras Completas V. 11/4, par. 757).