domingo, 26 de maio de 2013

Substâncias químicas e religião

A experiência com substâncias químicas que levam a um tipo de experiência religiosa me chama a atenção que se trata de uma abertura à dimensão espiritual, um meio de vivenciar a "função transcendente", conforme a psicologia analítica de C. G. Jung, mas que pode ser fruída sem nenhuma substância, pois esta pode levar a um contato com o absurdo, que é parecida com a do absoluto, com a qual devemos tomar cuidados, e não é necessária, ainda que pareça que nos leve a perceber a sua realidade. 
O mais importante disso tudo é que tal "função" é algo interno, e não externo, não vem de fora para dentro, mas se quisermos que permaneça, precisamos vivenciá-la de dentro para fora. 
Parece-me que se trata de uma experiência com a "psique" e da "psique", pois só através da alma é que podemos estabelecer que Deus age sobre nós, daí a conclusão de que passamos por alguma alteração em alguns de seus valores de vida. 
Jung afirma: "Pode ocorrer facilmente que um cristão que acredita em todas as figuras sagradas seja ainda subdesenvolvido e imoto no mais profundo de sua alma porque ele tem 'Deus todo do lado de fora' e não o experienta na alma. Seus motivos decisivos, seus interesses e impulsos dominantes não vêm da esfera da cristandade, mas da psique inconsciente e subdesenvolvida, que é tão pagã e arcaica como sempre... Sua alma está fora de compasso com suas crenças externas... Sim, tudo deve ser encontrado fora - em imagem e em palavra, na Igreja e na Bíblia -, mas nunca dentro" (Psicologia e Alquimia, par. 11-12).
Para a religião institucionalizada é uma experiência reprovável, mas o mais importante é que se tratou de uma descoberta que, provavelmente, a Igreja não favorece, devido a manutenção de um casulo vazio, de onde, há muito tempo, a "borboleta" já saiu.
Talvez pela primeira vez,percebamos que a relação com Deus é subjetiva e pessoal, e para que esta provoque as alterações que sentimos como necessidades em nossa história pessoal não precisa ser intermediada por nada, nem pela religião institucional, nem também por alguma substância química.
Não é fácil manter esta experiência pessoal à salvo da força dogmática presente no âmbito religioso, e também, acadêmico. É necessário um esforço moral na sua preservação e cultivo, pois se trata de uma "descoberta" de que Deus é imanente, e encarnado em nossa natureza, e não "Totalmente Outro" como afirmam as religiões.
"Jung concluiu que Deus age fora do inconsciente e força os seres humanos a harmonizar as influências opostas às quais a mente é exposta pelo inconsciente. O inconsciente quer cair na consciência para alcançar a luz. E ele afirmou que, buscando a unidade, podemos sempre contar com a ajuda de Deus" (Dyer, D. R. Pensamentos de Jung sobre Deus. p. 70).
Esta opinião de Dyer é muito importante: Deus nos ajuda a conciliar inconsciente e consciência, pois só assim podemos perceber que Deus está dentro de nós, e nunca esteve fora, ou como afirma Jung: 'Deus se torna manifesto no ato humano da reflexão".
Por isso, e muito mais, fique em paz, transforme o acontecimento de ter experimentado o chá em experiência de vida que pode levá-la a uma necessária transformação de valores, que só você sabe que verdadeira e realmente, precisa.

domingo, 21 de abril de 2013

O amor é o melhor substituto da hostilidade


Atos 14 – A atmosfera hostil vivenciada pelos primeiros cristãos não foi motivo para desistirem, nem desanimarem. Antes, eles se fortaleciam e se encorajavam mutuamente.
Qual o segredo deles? O que fazia deles cristãos fortes, unidos e corajosos, apesar de tantas dificuldades?
1. A consciência de que Deus os dirigia – Sl. 145.9, 14 e Ap. 21.3: “O Senhor é bom para todos”; “O Senhor sustém os que vacilam e apruma todos os prostrados”; “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habita com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles”.
2. A mão de Deus nos guia e é Ele quem realiza todas as coisas em nós – Sl. 145.10, 11; Ap. 21.5: “Falarão da glória do teu reino e confessarão o teu poder, para que aos filhos dos homens se façam notórios os teus poderosos feitos e a glória da majestade do teu reino”; “Eis que faço novas todas as coisas”.
3. A porta está aberta a todos – Sl. 145.4, 6, 7; Ap. 21.4: “Uma geração anunciará os teus poderosos feitos a outra geração”; “Falar-se-á do poder dos teus feitos tremendos”; “divulgarão a memória da tua muita bondade”; “Deus lhes enxuga dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”
4. Eles tinham uma mensagem: “mostrar a todos que através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” – At. 14.22

João 13.31 – nos conta que o próprio Jesus não desistiu nem desanimou de enfrentar as tribulações, antes Ele se manteve firme em Sua missão, porque trazia consigo o Reino de Deus, e este valia mais que suas próprias vidas, apesar de todas as adversidades.
Ele, também, tinha a consciência de que Deus O dirigia; a mão de Deus O guiava e era Ele quem realiza todas as coisas através dEle; que a porta está aberta a todos; e tinha uma mensagem: “assim como eu vos amei, amem uns aos outros. Nisto conhecerão, todos, que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”
Os feitos do Senhor devem ser nossa maior atenção;
A memória da Sua muita bondade é a nossa força;
E, ainda que vacilemos Ele nos sustenta, ainda que fiquemos prostrados, Ele nos apruma, nos põe de pé.
        
Quantas vezes já passamos por isso? Mas, temos que passar para outras pessoas esta experiência. Se não passamos é porque talvez estejamos insatisfeitos com o que Ele nos faz.
         A hostilidade não é impedimento para nos amarmos.
         O amor é o melhor substituto da hostilidade.

A cada dia que passa aumenta a “tentação de manter contato imediato e ininterrupto com a vida lá fora, para saber notícias de todos os cantos. (...) (é) sempre mais importante o lugar onde não se está. (...) dificuldade de as pessoas viverem a solidão, o recolhimento (...)”
         “Os meios de comunicação estão a penetrar cada instante da vida, passando a ser difícil se manter alheio ao que sucede naquele instante nos recantos da Terra ou no círculo de amigos. A comunicação contínua transforma cada qual em consumidor viciado de informações, passivamente dominado pela necessidade premente de receber e enviar mensagens, de falar ao celular, de visualizar enquanto almoça ou janta o écran da televisão (...) Brota a sofreguidão pelo recém ocorrido, de que se é inteirado de imediato, sem espaço para reflexão ou a dúvida”.
         “A consequência está na perda da individualidade diante do predomínio do coletivo graças à massificação da informação contínua, que formata sem juízos críticos uma mentalidade única, com distinções apenas tênues. A avassaladora prevalência do coletivo, no entanto, não proporciona o espírito comunitário, a solidariedade entre os homens, cada vez mais exclusivistas. Curiosamente, surge um individualismo sem individualidade: as pessoas restam sem identidade”.
         “A existência transcorre sem se formularem juízos de valor, sem imaginação, pois predominam o que se vê e os juízos de fato, por se afastar a construção de hipóteses. (...) substitui-se a qualidade das experiências pela quantidade das experiências”.
         “Passa-se, então, a fazer parte da opinião púbica, que não consiste na opinião de todos nem da maioria, mas a opinião construída pela mídia, especialmente rádio e televisão, que seleciona as matérias a serem veiculadas e, o mais importante, escolha a forma como elas serão veiculadas. Decidem os editores a tonalidade e os acentos a serem dados à notícia, sempre em busca do que efetivamente conta: o aumento da audiência”.
         “Formata-se, dessa maneira, um consenso artificial, uma opinião coletiva recepcionada sem questionamentos e sem avaliações. Imperceptivelmente, as pessoas são cada vez mais escravas dos meios de comunicação, ainda por cima com a internet, pois precisam deles, se alimentam deles, sentem-se órfãs ao estarem desconectadas. Vive-se com a mídia e pela mídia. Viver é estar plugado”.
         “(...) a nova cultura é a cultura da virtualidade real, em que predomina a televisão, esse meio frio de comunicação que se dirige a uma audiência preguiçosa, a um telespectador presidido pela lei do mínimo esforço, sem resistências em face do que lhe é transmitido. A televisão, devendo alcançar e satisfazer o maior número de pessoas, faz na programação um corte por baixo e define um raso denominador comum. Dessa maneira, ao buscar entreter, vale criar alarma, emocionar, estimular os aspecto sensoriais, facilmente apreensíveis, e apenas com raras exceções valorizar o senso crítico, a imaginação e a reflexão”.
         “Dá-se a mundialização dos costumes ao se uniformizarem comportamentos difundidos pelos meios de comunicação, do rádio à internet, em vista do que se enfraquecem a influência e a importância dos emissores seculares de valores e de ideais como a religião e as ideologias políticas”.
         “Cabe uma revolta do homem contra os dominadores insidiosos, para impedir a invasão constante de nossos domínios de exclusividade”.
         “Defensores da imaginação silenciosa, uni-vos”.
(Texto de Miguel Reale Júnior – Advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras. Foi ministro da Justiça. Artigo: Haydin ou BlackBerry – Jornal O Estado de São Paulo, 01.05.2010, A-2).

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Vale sofrer por Cristo


       “Se regozijaram por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” – At. 5.41
Os primeiros cristãos eram admirados pelos seus contemporâneos porque eram capazes de obedecer a Deus até às últimas consequências.
Eles obedeciam por que:
Valorizavam sua história religiosa: “O Deus de nossos pais” – eles se valiam da sua herança espiritual.
A história para eles era importante, pois indicava-lhes que não estavam seguindo uma novidade, mas algo que já fazia parte do seu repertório de vida.
Em Romanos 9.4-5 – Paulo nos chama a atenção para a grande riqueza espiritual, que a Igreja recebeu do judaísmo, e que agora faz parte do grande acervo da vida cristã: “Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas, deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!”
Estes cristãos reconheciam que estavam diante do novo e suas vidas se abriram e tiveram que se encaixar ao novo: “O Deus de nossos pais, ressuscitou a Jesus”.
Não existia pensamento mais revolucionário, até então.
O mesmo Deus que indicava Sua verdade de maneira simbólica, agora a cumpre literalmente, de modo a não deixar dúvidas em seus corações, pois eles haviam visto com os olhos e apalparam com as mãos e O reconheceram, isto é, não se tratava de uma miragem, mas lhes era real.
“O Deus de nossos pais, ressuscitou a Jesus” – era a vivificação da fé antiga que durante milhares de anos, animou o coração de todos os judeus. Nada podia ser comparado a esta mensagem que anunciavam.
“O Deus de nossos pais, ressuscitou a Jesus” – esta era a mensagem que dava vida nova àqueles primeiros cristãos, a ponto deles não medirem esforços para servirem a este Deus, que era o mesmo, que já conheciam.
Ainda que fossem açoitados e recebessem ordem para não viverem esta experiência de fé, para eles era motivo mais que suficiente para se regozijarem, porque os açoites davam a eles a certeza de serem filhos de Deus e isto aumentava sua autoestima: “regozijavam por terem sido considerados dignos de sofrer por esse Nome”.
Considerar-se digno de sofrer – é não desistir, nem desanimar, diante das dificuldades, por ser mais importante obedecer a Deus do que aos homens.
Quando resolvemos obedecer a Deus, logo enfrentamos dificuldades:
em pessoas, que se opõem ao nosso estilo de vida, de servir a Cristo, em tudo;
ao enfrentar tendências pessoais próprias do ego que não quer abrir mão de certos padrões de comportamento, ou de pensamento, porque nos dão certo conforto, e assim achamos que estamos evitando sofrer.
Nos acostumamos tanto a sermos como estamos que achamos que em nada podemos, nem precisamos alterar em nossa vida.
E, então, sofrer afrontas pelo Nome de Jesus é deixado para os mais religiosos, para aqueles que querem levar a vida religiosa mais profunda, e assim nos esquecemos que cada cristão é chamado para sofrer.
Jesus diz: “Quem quiser ser meu discípulo, todos os dias, tome a sua cruz, negue-se a si mesmo, e viva como Eu vivi”.
O discípulo verdadeiro não desiste e não se desanima, antes, ao contrário, as dificuldades que têm para tomar a cruz, que é carregar o peso do egoísmo e de confrontar-se com todos aqueles que tentam impedir que agrade a Deus que o ama, são compreendidos como motivos que o faz digno de sofrer pelo nome do seu Salvador.
Em que nos vemos dignos? Isto é, em que temos motivos para nos alegrar e regozijar? Qual deve ser o nosso prêmio como cristãos?
Em Mateus 5.11-12 – encontramos palavras que nos falam de que podemos ser repreendidos por sermos cristãos, quer dizer por vivermos como pessoas espirituais, isto é, quando vivenciamos mais os valores interiores da presença de Deus em nossa alma, do que quando agirmos como “velhos homens”, isto é, quando vivenciamos as práticas mais baixas da nossa natureza humana.
Podemos nos regozijar bastante, quando somos afrontados, porque isto é sinal de que somos dignos para sofrer o mesmo que nosso Senhor sofreu.
O salmista registra no Salmo 30.5 – que ele era digno de sofrer afrontas, pois estas duram apenas um momento, enquanto que a alegria, interpretada, por ele, como o favor do Senhor, “o Seu favor dura a vida inteira”.
Na linguagem poética, o salmista expressa que “ao anoitecer, o choro pode chegar para passar uma noite”, quer dizer, o choro, as afrontas e as dificuldades, nós as temos para passarmos por elas, durante um período, mas assim que o sol se levanta, elas terminam, o choro cessa, por mais doloroso que ele seja.
Assim, Jesus levou a Pedro a considerar-se digno de sofrer pelo Seu Nome - João 21. 15-17 – sofrer afrontas por Jesus é sinal de amor.
É como se Jesus dissesse: “Pedro, você demonstra que me ama de verdade, quando você não desiste de me seguir, como você fez quando me negou diante dos homens. Pedro me amar é me seguir até o fim, sem desanimar. E quem faz assim, pode se considerar digno de sofrer, por Mim”.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Páscoa


Um dos discípulos não acredita no que vê. Seus olhos só enxergavam os lençóis e o lenço que havia sido colocado sobre a cabeça de Jesus.
Porém, o outro discípulo, “viu e creu” – João 20.8.
Duas atitudes sobre um mesmo fato.
Todavia, o texto de Atos 10.34-43, nos indica que é possível mudar de opinião – o apóstolo Pedro que não havia acreditado que Jesus havia ressuscitado, naquela manhã, passa a anunciar: “a este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto” vs. 40. Pedro anuncia que era uma das testemunhas da ressurreição de Jesus, ao romano Cornélio, apresentado como “homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica” – vs. 22, como que querendo dizer, que se Cornélio estivesse junto ao túmulo vazio, naquela manhã de domingo, ele creria, assim como João, o “outro discípulo” – João 20.4,5.
A vida de Pedro, realmente, foi transformada depois que creu.
O texto nos deixa a entender que aquele que crê passa logo a comunicar a fé, para todas as pessoas, indiscriminada e livremente, pois “reconhece, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas (...) por meio do nome de Jesus, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” – Atos 10.34.
De fato, a transformação na vida de Pedro foi muito grande!
Anuncia a um romano que Deus tem a mesma disposição que teve para com ele – se Deus perdoa os pecados de todo aquele que crê em Jesus, mesmo daquele que não acreditou de imediato, apesar de ver os sinais da Sua ausência, também, de um romano que creu nAquele que “andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo” – vs. 38; e, isto sendo anunciado pelo judeu Pedro, demonstra o quanto sua visão de vida sofrera transformação.
Pedro poderia ter levado Cornélio a se sentir culpado pela crucificação de Jesus, pois como centurião romano obedecia a ordens do governador de Roma que reinava em Israel, e que teve participação direta no julgamento e condenação de Jesus à morte.
No entanto, Pedro apela a Cornélio que considerasse que Jesus fora “pendurado no madeiro”, porque andou por toda a parte fazendo o bem.
Pedro levou Cornélio a enxergar os sinais de Jesus, assim como vira os lençóis e o lenço no sepulcro, e não havia se lembrado do bem que Jesus havia feito, e que tantas vezes ele havia presenciado.
A ressurreição de Jesus transformou o judeu Pedro, o que o levou a aprender a fazer o bem ao romano Cornélio, deixando de lado o seu orgulho, o seu egoísmo, o seu sentimento de se ver grande e melhor do que os outros.
Fazer o bem aos outros, é sinal de que acreditamos no Jesus que não está no túmulo.
Afinal, é esta a mensagem de Paulo aos coríntios – I Coríntios 5.6-8 – “Não é boa a vossa jactância” – Paulo vê que a arrogância é o grande empecilho para celebrar a festa da Páscoa.
O Apóstolo Paulo compara a arrogância ao fermento, que por mínima quantidade que seja, pode fazer com que a pessoa se sinta tão superior aos demais que não percebe que não é ela que se justifica dos seus pecados, mas sim “Cristo, nosso Cordeiro Pascal, imolado” – vs. 7.
E, ensina a “lançar fora (...) o fermento da maldade e da malícia”, antes “celebremos a festa com os asmos da sinceridade e da verdade” – vs. 8.
Os “asmos da sinceridade e da verdade” precisam comidos por nós mesmos, quer dizer, sermos sinceros e verdadeiros para conosco mesmos, para percebermos o quanto somos tão imperfeitos quanto aqueles que julgamos e condenamos.
Só quem é sincero e verdadeiro consigo mesmo, sabe o quanto é importante fazer o bem aos outros, e principalmente àqueles considerados inferiores aos seus olhos, porém, para Deus não é diferente, antes, recebe dEle o mesmo amor e perdão, pois do contrário não poderíamos crer nEle.
O texto de João 20.1.9 nos apresenta pessoas que se formos arrogantes, facilmente as consideramos inferiores a nós: Maria Madalena prostituta convertida, Pedro um iletrado, João um pescador.
Os três são apontados pelo texto bíblico como “ainda não tinham compreendido a Escritura, que era necessário ressuscitar ele dentre os mortos” – vs. 9.
Maria Madalena, diante do túmulo aberto, disse: “Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram”;
Pedro e João correram juntos, e diante do mesmo cenário, têm reações tão diferentes: um vê e crê, o outro só vê, e procura entender, mas não entende, e os dois voltam para casa, e Madalena “permanece junto à entrada do túmulo, chorando. Viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus, suponha ser Ele o jardineiro” – vs. 10, 11, 14, 15.
Dá para ver o quanto somos parecidos com eles?
Perguntemo-nos: considerando as grosseiras e públicas fraquezas de Maria Madalena, Pedro e João, teriam eles chances de ganharem a nossa aproximação, e amizade?
Espero que sim, pois compartilhamos da mesma natureza humana deles; e se eles podem, eu também posso, e você também pode se aproximar e ser amigo de quem quer que seja.
A pressa de compreender as coisas nos prejudica.
Queremos que tudo seja explicado - não toleramos dúvidas, porque temos medo de nos sentir inferiores aos outros.
Quanta preocupação com as certezas, só para nos sentirmos melhor que os outros!
Como pode o “conhecimento” nos deixar tão cheio de nós mesmos! E, onde fica: “Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável”?
Quem deve julgar se o que é feito pelos outros é justo ou não, aceitável ou não, é Deus, pois Ele é o único que pode julgar!
Quem somos nós para julgar?
A nós nos cabe comer o pão da sinceridade e da verdade conosco mesmos.
Maria Madalena, Pedro e João, se alimentavam deste pão, principalmente depois de terem se convertido ao Senhor.
E, você, tem comido deste pão?
Lembre-se de se alimentar do “Cordeiro Pascal” – Jesus morreu para que os seus pecados fossem perdoados, e para que os pecados dos outros, também fossem perdoados.
O “Cordeiro Pascal” é alimento para todas as pessoas, que se veem necessitadas do perdão de Deus, porque se percebem imperfeitas, grosseiras, baixas, incapazes de acertar sempre.
“Celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade” – I Coríntios 5.8.
Aprofundemos ainda mais o sentido destas palavras: Não estariam elas nos desafiando a passar diariamente pela experiência da Ressurreição?
“Celebrar a festa não com o velho fermento”, significa, diariamente, transformar a falta de educação em ternura, a insatisfação em contentamento, a mentira em verdade, a dissimulação em honestidade, a maldade em caridade, a opressão em liberdade, a indiferença em solidariedade.
“Celebrar a festa não com o fermento da maldade e da malícia”, significa que diariamente precisamos transformar a nossa sede por recompensas em reflexão, de cinismo em vergonha, de perseguições em acolhimento, de exploração em amizade, de moralismos em tolerância, de preconceito em convivência, de discriminação em intercessão, de maledicência em bem-dizer.
“Celebrar a festa não com o velho fermento”, também significa se empenhar de fazer da melancolia, prazer; da inveja, alegria; da morbidez, beleza; daquilo que é trágico, em utopias; das perdas, conquistas; da altivez, humildade; da arrogância, simplicidade; da ambição, igualdade; do consumismo, sentido de vida; das exigências aos outros, autocrítica.
“Celebrar a festa com os asmos da sinceridade e da verdade”, significa, entre outras coisas: transformar ocupação em lazer, extinção em preservação, traição em diálogo, reducionismo em memorial, imediatismo em paciência, iconografia em história, grotesco em cordialidade, fundamentalismos em diversidades, sensacionalismo em conteúdo, midiático em bom-senso, corrupção em temor, desigualdade em fraternidade, intolerância em paz, autoajuda em sabedoria, técnica em proximidade, esoterismo em espiritualidade, enganos em acertos, isolamento em pertencimento, ter em ser, descartável em permanência, alienação em consciência, banalização em valores, magia em espera, igreja em religião/espiritualidade, relativismo em padrão ético, morte em vida.
“Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado.” – I Coríntios 5.7 – Nisto está o sentido da Páscoa experimentado por Pedro, Cornélio, Paulo, Maria Madalena, João, os coríntios – eles se transformaram em “nova massa”.
Oxalá, eu e você, também!
Boa Páscoa!

sábado, 9 de março de 2013

O êxodo do Egito e o Filho pródigo: mais que semelhanças


Lucas 15.1-3, 11-32 – nos conta a Parábola do Pai que gastou todo seu amor ao filho que retornou à sua casa; mas, pode ser entendida como uma ilustração do povo de Israel que saiu do Egito e chegou à terra da Canaã.
1. O filho em terra distante, na qual padeceu fome e sofreu necessidades – vs. 13-14, ilustra o povo de Israel que no Egito passou por grandes necessidades;
2. Na terra distante, um dos cidadãos daquela terra, mandou o rapaz, guardar os porcos – trabalho humilhante, realizado apenas por escravos – vs. 15, isto é muito semelhante à vergonha ultrajante da escravidão que Israel sofreu no Egito;
3. Aquele filho não recebeu nada dos habitantes da terra, ilustra muito bem o tratamento recebido por Israel, durante os 400 anos que vivera no Egito;
4. Sua oração – vs. 17-19, ilustra o clamor dos filhos de Israel, que gemiam e clamavam devido ao sofrimento;
5. No vs. 20, diz que o moço levantou-se e foi para seu pai, representa a imagem da saída do povo do Egito e seu retorno à terra de Canaã;
6. O vs. 20 ainda nos diz: “Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo o abraçou, e beijou” – é como se Jesus se referisse às atitudes tomadas por Deus ao libertar o Seu povo do Egito, levando-o à terra que mana leite e mel, que simboliza o seu abraço e beijo, seu cuidado amoroso, atendendo cada uma das suas necessidades;
7. Os vs. 22-24, faz referência ao Pai que providenciou ao filho - “a melhor roupa, pôs em seu dedo um anel e calçou-o com sandálias, mandou matar o novilho cevado e o comeram e, regozijaram-se porque seu filho que estava morto, reviveu, que estava perdido, foi achado”, ilustrando ao que lemos em Josué 5.9 – “Hoje, removi de vós o opróbrio do Egito”. Assim como fez o pai ao seu filho, Deus também pôs fim às necessidades do povo de Israel: de escravos passaram a ter uma condição digna de vida; de humilhados passaram a ser o centro de todas as atenções – o povo-filho foi resgatado.
O novilho cevado que o filho comeu naquele dia em companhia do pai foi a páscoa que os filhos de Israel comeram quando saíram do Egito. E, o regozijo do pai pelo retorno à sua casa do seu filho mais novo, ilustra bastante bem, que depois que os filhos de Israel chegaram à sua terra de Canaã, comeram lá das suas novidades;
8. Mas, e o filho mais velho, que estivera no campo e ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças, e ficou indignado e não quis entrar, além de responder ao pai, que ele sim, o servia a tantos anos sem jamais ter desobedecido uma ordem sequer, enquanto que ele estava desperdiçando seus bens com alguém, seu irmão, que não merecia nada, é semelhante a quê? – vs. 25-30.
1. Se refere às nossas atitudes, pois apesar de Deus ter feito tudo por nós, ainda assim vivemos como se estivéssemos no Egito;
2. Ilustra nossa atitude, de apesar sabermos que Deus ouve nossos clamores, ainda assim não clamamos por Ele;
3. Fala a respeito de nossa atitude, que apesar de Deus tomar as providências, às vezes as mais espantosas, para nos livrar de nossas necessidades, ainda assim achamos que é pouco e, que mereceríamos que Ele fizesse algo maior do que tem feito, só porque somos nós, enquanto que para os outros, Deus é melhor do que para nós;
4. Se refere à nossa atitude, de permanecermos no lugar que estamos, e de não querermos nos levantar e ir ao encontro do Pai, e assim mesmo, querendo que aconteça um êxodo, uma mudança de vida, porém desde que tudo continue da mesma maneira, porque nos acostumamos ou nos adaptamos tanto ao estado que nos encontramos que não queremos voltar ao Pai, porque para o êxodo acontecer, temos de mudar interiormente, e qualquer mudança interior a entendemos como desconfortável, que segundo a parábola trata-se do “cair em si”. E, nos recusamos a “cair em si”, e ficamos indiferentes à nossa situação espiritual ainda que continuemos gemendo e gritando de fome;
5. Ilustra, ainda, nossa atitude para com o próprio Deus, que mesmo tendo apressadamente tomado todas as providências, e todos os dias se compadece de nós, corre ao nosso encontro, abraça-nos e beija-nos, e ainda assim, O desprezamos, achando que merecíamos muito mais; que o que Ele faz é muito pouco, então, por que dar tudo para um Deus que faz tão pouco?;
6. Fala a respeito de nossa atitude quando não percebemos que o maná, que era o alimento provisório, é substituído pelas novidades da terra de Canaã, isto é, vivemos como se as coisas antigas ainda não tivessem passado, que Deus continua nos tratando segundo nossas transgressões, e não segundo a reconciliação que resolveu fazer conosco, nos tratar como filhos, não mais como escravos. Isto significa que, às vezes, nos relacionamos com Deus mais por medo que por amor, ao invés de gozarmos plenamente a liberdade de leis, regras e preceitos, que nos massacram e tiram nossa alegria, porque nos impõe medo e pavor;
7. Se refere à nossa ingratidão para com Deus que nos ama mesmo quando não cumprimos Suas ordens, pois Ele não estabelece condição alguma para nos amar, ao contrário, nós sim que estabelecemos condições para Ele nos amar;
8. Contudo, a parábola nos propõe que nos identifiquemos com o filho mais novo, pois nós também somos como ele:
1. Assim como ele, precisamos aprender que as situações que nos fazem sofrer e gemer são precisamente aquelas que nós mesmos criamos, devido às nossas fraquezas, pois carregamos em nós o “cidadão que nos manda guardar seus porcos”, e isto significa que precisamos nos conscientizar que não passam de “porcos” as fraquezas que nos humilham, mas que precisam de nossa atenção e cuidado, pois se negligenciarmos nossas fraquezas, nós morremos;
2. Apesar de ser muito humilhante assumirmos que temos “fraquezas”, é melhor assumirmos esta condição, e apresentarmos cada uma delas, em clamor e gritos Àquele que segundo o Salmo 34:
livra-nos de todos os nossos temores – vs. 4;
ouve nosso clamor aflito e nos livra das tribulações – vs. 6, 17;
tem Seus olhos voltados para nós e ouvidos estão abertos ao nosso clamor – vs. 15;
mesmo que as aflições sejam muitas, de todas Ele nos livra – vs. 19;
nosso Deus nos resgata nossa alma – vs. 21;
3. O filho mais novo viveu intensamente as palavras do Apóstolo Paulo – II Coríntios 5.17-21 – ao voltar à casa do pai ele se reconciliou com seu pai, isto é, ele experimentou uma alteração interior, já não era mais aquele que havia saído de casa, passou a ser uma nova pessoa por dentro, “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”;
4. Por tudo que passamos: sendo escravos do egoísmo, tão cheios de nós mesmos, temos de sentir que precisamos experimentar uma mudança por dentro, para comermos as novidades da terra de Canaã, da festa do Pai;
5. Precisamos saber que enquanto permanecermos em nossa própria miséria, além de passarmos fome, não há alguém que possa nos dar alguma coisa. Ou seja, se não tomarmos uma atitude por nossa própria conta, ninguém fará por nós. Por melhores que sejam nossos amigos, familiares, ou qualquer recurso que possamos ter: dinheiro, prestígio, moral, sucesso, bens, confissão religiosa, etc, mas, se não tivermos vontade para sairmos da situação que nos encontramos, escravizados pelas nossas fraquezas, nada virá ao nosso encontro. Temos que “cair em nós mesmos”, isto é, refletirmos, considerarmos sincera e seriamente nossa real condição, e com vontade clamarmos a Deus que vem ao nosso encontro correndo, com paciência, e nos recebe de braços abertos e quer nos beijar, porque nossa estrutura é pó;
6. A mudança interior que precisamos que aconteça em nós é nos entregarmos aos abraços e aos beijos do Pai, isto é, vivermos plenamente a liberdade para a qual o Senhor nos chamou. A liberdade não substitui a obediência, ao contrário, a liberdade para a qual o Senhor nos chama a vivermos diariamente é para justamente não mais ficarmos cultivando o pensamento dominado pelas nossas fraquezas, mas confiarmos ao Seu amor, caso caiamos em nossas fraquezas;
7. A liberdade não é para fazer com que o escravo faça o que bem entende, mas sim que pelo cuidado amoroso que o Senhor dispensa a nós, nós O amemos, nos relacionemos com Ele como filhos;
8. O filho não é escravo. O escravo teme o seu senhor, o filho procura imitar o pai. O escravo espera receber alguma coisa do seu senhor, o filho desfruta dos bens do pai, porque é tudo dele. O escravo cumpre ordens, o filho se alegra com a presença do pai que lhe diz: “Meu filho, tu sempre estás comigo”. O escravo sabe que nunca será filho, o filho vive tranquilo e por isso pode se alegrar porque ainda que saia de casa, ao voltar, continua filho, não perde jamais esta condição e, portanto, mesmo sabendo disso, não deseja isso para sua vida, porque seu pai é sua alegria e regozijo, nada pode substituir o abraço e o beijo do pai;
9. Você é uma “nova criatura”, isto é, você tem uma nova vida por dentro, quando você se relaciona com o Pai, com liberdade e amor e não com temor e insegurança que nos leva a querermos barganhar o seu amor, que nos dá com liberalidade incondicional.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Não tenha medo!


A Bíblia é grande e universal álbum de fotografias, isto é, as Escrituras falam sobre nós para nós mesmos, somos nós mesmos nas fotografias. Não são poucas as vezes que fazemos o mesmo que Abrão. Assim como Abrão, lamentamos por situações que consideramos serem permanentes, pois não apreciamos o que já possuímos, e queremos outras – “O Senhor falou com Abrão: Abrão, não tenha medo. Eu defenderei você. E lhe darei muitas bênçãos. Ao que Abrão respondeu: Ó Senhor Deus, de que benção está falando? Pois não tenho nenhum filho, e o meu herdeiro é o meu servo Eliezer. Ele que não é da minha família, e que é estrangeiro, de Damasco! Não tendo descendente, ou ele ou algum criado nascido em minha casa herdará as riquezas que me dás!” (Gênesis 15.1-3 – Bíblia Viva)
A esta altura da história, Abrão ainda estava se dirigindo à terra que o Senhor lhe havia prometido. Ele já havia saído de Ur dos caldeus, atualmente Iraque, região próxima de Bagdá, onde fora chamado por Deus – Gn. 12.1.
Da cidade de Ur, Abrão acompanhado de seu sobrinho Ló, chegou ao Egito pensando em “aí ficar”, porque passava fome em Ur, conforme Gn. 12.10; e, combinou com Sarai, sua mulher, que ela deveria se comportar como se fosse sua irmã e não esposa, porque temia que os egípcios o matassem, para ficar com ela. Em certa ocasião ganhou presentes, graças a esta estratégia – “ovelhas, bois, jumentos, escravos e escravas, jumentas e camelos” – Gn. 12.11-16; até aí, tudo parecia indo muito bem com Abrão, “porém, o Senhor puniu Faraó e a sua casa com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão”, e eles foram expulsos do Egito, por enganar a Faraó – Gn. 12.17-20.
Do Egito, Abrão e Ló partiram para Canaã, chegando pelo Sul, na região do Neguebe – Gn. 13.1; vai para Betel, levando consigo toda sua riqueza – Gn. 13.2-4; e, lá se separa de Ló, que junto com sua família, toma a direção da direita, o Oriente, porque observou que a terra era “bem regada” – Gn. 13.10-12; e, Abrão toma à esquerda, e recebe de Deus uma promessa: “Farei a tua descendência como o pó da terra”, e foi morar próximo da cidade de Hebrom – Gn. 13.14-18.
O sobrinho Ló foi preso pelos reis das terras, para onde tinha ido, que provaram mais uma vez que eram perversos e temidos por todos; Abrão ajudado pelos habitantes de Hebrom, que já tinham se tornado seus amigos, libertaram Ló, seus familiares e seus pertences – Gn. 14.1-17; quando Abrão conhece ao rei Melquisedeque “sacerdote do Deus Altíssimo”, que o ajudou a se recuperar depois da operação de resgate de seu sobrinho Ló, como forma de recompensa de ter lutado e vencido os temidos reis daquelas terras – Gn. 14.18-24.
Por isso, o texto começa dizendo: “Depois destes acontecimentos...” – Gn. 15.1.
Abrão não concorda com as palavras do Senhor – “Não tenha medo. Eu defenderei você. E lhe darei muitas bênçãos” – Gn. 15.1.
Abrão reclama: “Estou sozinho no mundo, não tenho filhos”.
E, o Senhor interfere dizendo: “Não, não! Seu herdeiro não será Eliezer. Você ainda será pai, e o seu filho herdará tudo que é seu” – Gn. 15.4 (Bíblia Viva).
Abrão não enxergava o que Deus tinha preparado para ele. Deus o preparava para muito mais do que sobreviver à fome, mais do que ser esperto e conseguir enganar até os homens mais poderosos da terra, possuir grandes riquezas e ser dono de grandes propriedades, vencer inimigos perversos.
Abrão estava sendo preparado para andar pela fé. Deus o coloca frente ao céu aberto, cheio de estrelas, e diz: “Olhe para o céu: veja se é possível contar as estrelas. Assim serão os teus descendentes. Tão numerosos que não poderão ser contados” – Gn. 15.5.
Abrão precisava voltar a viver na dependência de Deus que o chamara quando ainda estava em Ur. Parece que tinha se esquecido daquela experiência.
Diante de tantas experiências terrenas, onde havia ficado a sua experiência religiosa? Era isto que Abrão precisava resgatar. E, Deus o leva olhar para o céu.
Olhar para o céu não é fazer esquecer as coisas da terra, como se na terra ele não mais estivesse; não é fechar os olhos para os desafios que ainda viriam. Olhar para o céu é mudar o jeito de enxergar as coisas da terra; é enfrentar os desafios com os olhos da alma.
Conosco acontece a mesma coisa: à medida que vamos tendo muitas experiências, é muito fácil achar que viver é simplesmente passar por experiências terrenas.
E, quanto à fé?
Qual o lugar que a fé ocupa em nosso dia a dia?
Abrão reclamava que não queria viver outras experiências semelhantes àquelas que tinha vivido, com relação a ter de passar toda a sua riqueza a uma pessoa que não fosse seu filho verdadeiro.
Conosco, também, toda vez que reclamos de alguma coisa da vida é porque deixamos de viver pela fé e achamos que estamos aqui para enfrentar as situações, ora fáceis, ora difíceis, e só.
Viver pela fé precisa se tornar um estilo de vida e não apenas um momento, quando estamos sob o impacto da sua influência sobre nós; também precisamos enfrentar os desafios olhando-os com os olhos da alma, ou olhando para o céu.
Paulo adverte aos Filipenses 3. 17-4.1 – “Caros irmãos, há muitos que andam pela estrada cristã, mas na realidade são inimigos da cruz de Cristo. O futuro deles é a perdição eterna, pois seu deus é o apetite; eles têm orgulho daquilo que deveria envergonha-los; e tudo o que eles pensam é nesta vida, aqui na terra. Mas a nossa pátria está no céu, com o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Bíblia Viva).
Deus nos livra de sermos “inimigos da cruz de Cristo” toda vez que nos chama a viver pela fé, e não segundo os padrões de vida que são admirados na terra.
Abrão tinha tudo que muitos hoje entendem ser as coisas mais importantes na vida: riquezas, esperteza para se sair bem das situações difíceis, amigos que ajudam nas dificuldades, reconhecimento e admiração de pessoas importantes pelas conquistas, mas faltava o mais importante – viver pela fé, conforme ele já havia experimentado quando saiu de Ur.
E, você, como está vivendo?
Note que não é suficiente “andar na estrada cristã”, isto é, estar na companhia daqueles que vivem pela fé, é preciso ter os seus passos no caminho da fé; que é possível se orgulhar daquilo que deveríamos nos envergonhar, na edição da Bíblia Revista e Atualizada - “se gloriar da infâmia”, isto é, considerar que a vida é acumular experiências que tem valor apenas terreno, que despertam o interesse dos outros, mas, que realmente não são valores espirituais.
Para ser “amigo da cruz de Cristo”, é preciso viver pela fé, quer dizer, deixar que os valores espirituais orientem e determinem a vida, para que esta tenha o sentido ao qual ela foi criada.
O salmista registra isto nestas palavras: “Há uma coisa que realmente desejo do Senhor; o privilégio de viver durante toda a minha vida na Sua presença, para descobrir a cada dia um pouco mais da Sua perfeição e do Seu amor. Quando eu estiver em dificuldades, Ele será a minha proteção. Ele me esconderá em sua casa; Ele me colocará acima dos problemas, numa rocha firme. Seja paciente e espere pela ação do Senhor. Seja valente e encha o seu coração de coragem. Espere com confiança no Senhor!” – Salmo 27.4-5, 14 (Bíblia Viva).
Pedro, Tiago e João aprenderam isto com o Senhor Jesus. Diante do brilho e da glória do Senhor, eles tinham de guardar a voz de Deus, que disse: “Este é meu Filho, meu Escolhido, a quem vocês devem ouvir” – Lucas 9.28-36.
Daquela experiência dependia a vida deles, assim como Abrão dependia do chamado do Senhor. Nada se comparava à voz do Senhor que falara a eles. Eles tinham de manter vivo o mistério de Deus que tinham ouvido.
Quando mantemos vivo em nosso coração o mistério da fé, quer dizer, quando nos valemos da fé como o bem mais precioso que temos nesta vida, podemos ter como resultado, aquilo que Deus prevenira a Abrão: viver num país estrangeiro, como escravo, e sofrer muito por causa disto, mas, o Senhor se dirige a ele, e lhe diz: “quanto a você, sossegue!” – Gn. 15.13.
Conosco o mesmo se dá.
Por nos valermos da fé como o valor supremo para dirigirmos a nossa vida, o mundo passa a ser um lugar estranho, nos sentimos escravos, isto é, vivemos situações que não podemos alterar, e isto nos provocará muito sofrimento, desconforto, porém, as palavras do Senhor a Abrão, nos servem: “Quanto a você, sossegue!” Como que querendo dizer: Por que com você teria de ser diferente? Aguente firme! Não desista! Mais importante do que tudo neste mundo, é viver pela fé. Então, se volte ao mistério da fé para viver.

Sugestão: depois das leituras bíblicas, ore:
Gênesis 15.1-3
Reconheçamos das vezes que não enxergamos a Deus presente em nossa vida, com Sua proteção e tomando as providências para mudar nossa vida. Reconheçamos das vezes que julgamos nossa vida de maneira pessimista, olhando-a com desânimo e sem vontade de que alguma coisa boa aconteça. Admitamos as vezes que não cremos naquilo que nos mostra aos olhos, e ao coração.

Salmo 27
Não fiquemos assustados e paralisados com o mal que somos capazes de fazer contra nós mesmos e contra nosso próximo, pois Deus é a luz da nossa vida; o Salvador do nosso coração; para ficarmos em paz em meio às batalhas que nosso pecado trava contra nós; para descobrirmos a cada dia, um pouco mais do Seu amor; para nos colocar acima dos problemas que nossos pecados promovem; para experimentarmos interiormente os efeitos da Sua voz quando nos fala ao coração; para não voltar Suas costas para nós, mas nos receber de frente; para não ficar zangado conosco, mas nos tratar com um sorriso alegre; para não nos abandonar e se afastar de nós, mas nos acolher de braços abertos e ficar mais perto de nós do que nossos pais; para nos ensinar melhores caminhos; para orientar nossos passos. Deus nos perdoa porque nossos pecados, são como inimigos: não se importam com nosso bem estar, nos odeiam mortalmente, e nos acusam sem verdade alguma sobre nossa relação com Ele; para Sua bondade triunfar sobre nossa maldade.

Filipenses 3.17-4.1
Lembremo-nos que temos exemplos a seguir, mas também, de sermos exemplos para outras pessoas. Que sejamos levados a buscarmos mais as coisas dos céus e não as da terra.

Lucas 9.28-36
Queremos ver a glória assim como Pedro, João e Tiago viram naquele dia. Que a Palavra nos ilumine de tal modo que nosso coração se entregue sem reservas.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tradição versus sentimento: com o que ficar?

As religiões dominantes do mundo "contêm uma sabedoria revelada, originalmente oculta, e exprimem os segredos da alma em imagens magníficas. Seus templos e suas escrituras sagradas anunciam em imagens e palavras a doutrina santificada desde eras remotas, acessível a todo coração devoto, toda visão sensível, todo pensamento que atinge a profundeza. Sim, somos obrigados mesmo a dizer que quanto mais bela, mas sublime e abrangente se tornou a imagem transmitida pela tradição, tanto mais afastada está da experiência individual. Só nos resta intuí-la e senti-la, mas a experiência originária se perdeu" (JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 19, parág. 10).

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Você tem medo de você?

Você tem medo de você?
Para você ter medo de você, é necessário ter consciência do mal que você é capaz de fazer aos outros, e a você mesmo.
William Shakespeare escreveu uma peça cujo título é Rei Ricardo III. No 5º Ato da 3ª Cena, Ricardo diz:
“Ó consciência covarde, como me afliges!
Quê! Tenho medo de mim?
Não há nenhum outro aqui.
Ricardo ama Ricardo; isto é, eu sou eu.
Haverá um assassinato aqui? Não. Sim, eu sou.
Então foge. Quê? De mim mesmo?
Que grande razão a não ser que eu me vingue.
Quê? Eu de mim mesmo?
Olha! Eu me amo a mim mesmo.
Por qualquer bem que eu tenha feito a mim mesmo? Ah! Não!
Olha, eu, antes, me odeio...
Minha consciência tem mil diferentes línguas,... todas gritando: “Culpado! Culpado!”
Consciência é uma palavra usada pelos covardes...
Que nossos poderosos braços sejam a nossa consciência e as espadas, a nossa lei.
Marchemos juntos com bravura, rapidamente; se não para o céu, então de mãos dadas para o inferno.”

         Estas palavras de Ricardo III revelam que ele não tinha medo dele mesmo; temer a si mesmo é covardia.
Talvez, a primeira coisa que salta aos olhos dos textos bíblicos – Deuteronômio 26.4-10; Romanos 10.8-13; Salmo 91; Lucas 4.1-13 - é a realidade do mal e da maldade.
Mas, por vivermos cercados de certos “confortos” que a vida moderno nos permite, estamos perdendo a necessária capacidade de considerar a existência do mal e da maldade em nós mesmos. “Confortos”, como: a tv, o dinheiro, os políticos corruptos, as estruturas internacionais como Taleban e Al Qaeda, criminosos frios – estes nos ajudam a pensar que não somos maus, e se não somos maus não precisamos do Senhor em nossas vidas, porque somos bons. Concluímos. Para alguns, o mal e a maldade não existem, porque não se sentem atingidos por eles.

Deuteronômio 26.4-10 – narra-nos o mal que o povo de Israel sofreu. O texto faz referência ao mal e a maldade sofrida desde os tempos dos Patriarcas, que são representados pelo nome - “Arameu”, referência a Isaque, conforme Gênesis 25.20.
O texto descreve a descida ao Egito e ao mal sofrido, inicialmente, por 70 pessoas, – Êxodo 1.5 – que depois de 400 anos haviam se tornado milhões de pessoas; e a vida no Egito foi marcada pela opressão.
Devido ao orgulho e a soberba de Faraó, o sofrimento foi intenso, registrado como angústia, trabalho e opressão – vs. 7.
Mas, também, o texto se refere à entrada do povo na terra de Canaã; como que, para deixar registrado que a maldade sofrida, tão intensamente, não venceu nem derrotou aquelas pessoas.

“O Senhor nos tirou do Egito: Com mão poderosa. Com braço estendido. Com grande espanto. Com sinais. Com milagres” – vs.8.

É admirável o que Deus fez com o Seu povo. Nenhum outro motivo pode ser atribuído àquilo que o Senhor fez pelo Seu povo, senão o Seu amor.
O povo experimentou as palavras de Paulo aos Romanos 10.12 – “O Senhor é rico para com todos os que O invocam”.

O Salmo 91 registra como a maldade age e atinge as pessoas.
O salmista nos fala que a maldade é invisível, só depois da destruição que ela provoca é que percebemos a sua atuação; que ela se apresenta invisível, de tal maneira que as vítimas não se preparam com antecedência.
Para o salmista, a maldade é como se fosse:
         Laço do passarinheiro – os maus agem às escondidas, camuflados, não deixando vestígios de sua presença e de suas intenções, para pegar as suas presas. Admitamos: não são poucas as vezes que agimos como o caçador que armamos armadilhas para nós mesmos e para os outros, e sempre nos preocupamos em não deixar “pistas” ou “sinais” que nos denunciam nossas maldades;
Peste perniciosa – a maldade age como os vírus ou bactérias, sem que seja percebida, agimos às escondidas, provocando um dano terrível, se não for acudido a tempo;
         Terror noturno – a maldade se vale da noite, para que ninguém acompanhe os passos que poderiam ser seguidos; não é possível prever os ataques dos maus. Admitamos: nossas maldades são imprevisíveis, atacamos sem avisar previamente, só depois calculamos os estragos;
         Peste que se propaga nas trevas – à noite a capacidade de discernir as coisas, é mais limitada, e os maus se valem da sua esperteza, para aplicarem seus golpes. Admitamos: toda vez que agimos contra nós e contra os outros não nos valemos do discernimento de quem somos e das consequências das nossas decisões ou ações;
         Mortandade que assola ao meio-dia – indicando que as consequências são terríveis, mas às vezes já não tem mais o que possa ser feito, devido às proporções que a maldade toma. Admitamos: são muitas as vezes que depois do mal praticado contra nós e contra os outros, depois que nada mais pode ser feito, porque o estrago é grande demais, percebermos a maldade que nos habita;
         O maldoso age sem percebermos, como o caçador arma suas armadilhas – O Salmo 140.5, nos diz: “Os soberbos ocultaram armadilhas e cordas contra mim, estenderam-me uma rede à beira do caminho, armaram ciladas contra mim”;

Em Romanos 10.8-13 e em Lucas 4.1-13, aprendemos como devemos tratar quando estamos sob o ataque do mal, que pode ser personificado nos maldosos, que somos nós mesmos.
Para lutar contra o mal faça como o Senhor Jesus, acredite que: “Não só de pão viverá o homem” – isto é, Jesus confiou que Deus o sustentaria, que na Sua angústia, Deus esteva com Ele;
“Ao Senhor teu Deus, adorarás e só a Ele darás culto” – Jesus cuidou para que não ficasse tão soberbo como o próprio tentador e, tomou esta atitude, porque Ele conhecia o Nome do Senhor;
“Não tentarás o Senhor, teu Deus” – Em Mt. 26.53-54 – Jesus sabia que podia contar com legiões de anjos para libertá-lo da morte, mas não se colocou em situações vulneráveis, antes, soube se preservar da soberba e das suas consequências.

É muito comum considerarmos que o mal é tudo aquilo que outras pessoas fazem contra nós, que tanto nos prejudica, e que somos vítimas em suas mãos; todavia, não consideramos que, na realidade, se sofremos algum mal dos outros, é porque estas pessoas não tinham consciência de suas maldades, e por isso cometeram contra eles mesmos, e contra nós, as suas maldades.
Teríamos muito mais proveito se considerarmos que os maldosos somos nós mesmos. Agimos sob disfarces conosco mesmos. Não tratamos com seriedade o mal que somos capazes de cometer contra nós mesmos. Não tememos a nós mesmos.

A verdade é que o Egito com suas opressões somos nós mesmos. Causamos angústias e damos trabalhos pesados a nós mesmos, quando nos maltratamos. Somos nosso próprio Faraó, soberbo e presunçoso. Não atendendo às necessidades que a alma reclama. Segundo o apóstolo Tiago – “somos tentados pela nossa própria cobiça, que nos atrai e nos seduz” – Tiago 1.12-15. E, nossa cobiça é como o laço do passarinheiro, como a peste que não se sabe de onde surge senão quando se vê seus efeitos.
Somos nós mesmos que cobiçamos mais as coisas materiais no lugar das espirituais, e por isso às vezes dizemos: “eu sou o que tenho”;
Somos nós mesmos que cobiçamos mais prestígio e sucesso que nos leve a sermos admirados pelos outros, e por isso às vezes dizemos: “tenho que conseguir tudo o que quero, para ser admirado pelos outros, e Deus há de querer”.
         Somos o Ricardo III da Cena 3, Ato nº 5, de William Shakespeare - não tememos a nós mesmos. E, por não temermos a nós mesmos, por isso não buscamos a Deus, que é rico para com todos, está perto de nós, à nossa boca.
        Temos de intensificar a relação com o Self, na linguagem da psicologia analítica de C. G. Jung, isto é, Ele nos tirar do Egito que somos nós mesmos, com mão poderosa, braço estendido, e às vezes, pode nos causar “grande espanto”, devido aos “sinais e milagres”, quer dizer, porque só mesmo um milagre pode nos tirar das situações que nos envolvemos devido às nossas maldades.

Sugestão: depois das leituras bíblicas, ore:
Deuteronômio 26.4-10

Admitamos que muitas vezes nos apresentamos a Deus sem nenhuma oferta de gratidão, por acreditar que estamos vivos graças a nós mesmos, e às nossas capacidades humanas e terrenas. Que o Senhor nos perdoe das vezes que buscamos refúgio no “Egito”, isto é, em pessoas como nós mesmos e, não nEle, mesmo sabendo que sofremos muito por essa decisão. Confessemos a Deus das vezes que não invocamos Seu Nome, até mesmo quando estamos em angústia e sofrimento, por acreditar que logo superaremos as dificuldades, graças às nossas capacidades.

Salmo 91
Deus nos perdoa para sermos guardados e protegidos por Ele, pois Ele é a nossa fortaleza e socorro. Deus nos perdoa para estarmos seguros das doenças e armadilhas que armamos contra nós mesmos, pois Ele é o nosso escudo. Deus nos perdoa para percebermos nossa escuridão e não para sairmos dela; percebermos a violência de que somos capazes de cometer contra nós mesmos e contra nosso próximo. Deus nos perdoa para dizermos para nós mesmos: O Senhor é a nossa proteção.

Romanos 10.8-13
O Senhor está perto de nós, tão perto como nossos próprios corações e nossas bocas. Lembra-nos que confiando no Senhor, não ficamos decepcionados. Peço que nos faça confiar que é o Senhor que nos dá generosamente de tudo que precisamos, principalmente quando estamos em luta contra nossas cobiças.

Lucas 4.1-13
Para não morrermos de fome no deserto que muitas vezes transformamos nossa vida, para não sermos vencidos pelas tentações que sofremos todos os dias, precisamos de Deus.

BENÇÃO
Que o Senhor livre você das armadilhas e das doenças mortais que você tem dentro de você. Que o Senhor proteja você ao enfrentar o lado mais escuro da sua personalidade. Que o Senhor salve você da violência que é capaz de fazer contra você mesmo. Que o Senhor coloque você em um lugar seguro para evitar que a sua vida seja destruída.